Pé na boca

Deve ser algo bem importante porque várias pessoas sempre perguntavam se o Dário já coloca o pé na boca.

Por que a pressa? Por que ficar tentando enfiar o pé dele na boca para ver se ele começava a fazer isso logo? 

Não sei. Para mim não faz sentido nenhum. 

A única coisa que sei é que não aguento mais tanta gente dizendo tanta coisa sobre o Dário. Um milhão de médicos falando um milhão de coisas contraditórias. 

Tudo o que eu queria era sossego. 

Ele estava com algumas bolinhas vermelhas no corpo, como se fosse alguma alergia.

Algumas pessoas disseram que poderia ser do calor, outras que poderia ser de algum produto que usei. Não estava com febre, não estava chorando, estava risonho, se alimentando e dormindo bem. Mas ainda assim insistiram que seria melhor levar no hospital. 

Eu não levei. Lembrei da médica que me disse que aqui eles não sabem o que fazer com cardiopatas. É só falar que é cardiopata que já arregalam os olhos e ficam com medo. Ficam fazendo terrorismo e caçando pelo em ovo.

Dei banho com maizena e sumiu tudo.

Eu não tenho mais estrutura para tanto terrorismo. 

Ninguém reparou que vou sozinha para as consultas? Como posso voltar sozinha, dirigindo, depois de ouvir tantas coisas assustadoras? 

E sempre não há certeza de nada, só estão falando demais, falando pelos cotovelos, me deixando maluca. 

Eu não aguento mais isso. Por isso parei de levar o Dário em várias consultas. É sempre um transtorno sair com bebê, bagunça todos os horários dele e está chovendo todos os dias. 

Estou adicionando mais riscos do que benefícios saindo com ele assim. 

Estou cansada. 

Hoje fiz o teste de colocar o Dário na cadeira da bicicleta para ver se já fica sentado mais firme para podermos andar e parece que já é possível andar com ele. 

Só quero uma vida normal.
Ele não está um gato? Como pode ficar tão esperto de forma tão rápida? Agora ele virou um tagarela, fica o tempo todo falando na língua dele. Um barato.