segunda-feira, 30 de março de 2015

33 semanas

Estava pedalando um pouco antes de ir para o trabalho quando me lembrei da consulta no CAISM marcada para às 7:30.
Olhei no relógio e eram 7:33.
Pensei em tudo o que deveria fazer para ir até lá e estimei que só conseguiria chegar lá depois das 9 da manhã. Ia ser uma correria e eu não estou nem um pouco afim de me estressar mais.
Foram quase 3 meses tentando colocar a cabeça no lugar e adquirir o mínimo de serenidade, então não vou me descabelar por nada agora que estou me aproximando do parto.
Me arrumei calmamente para ir para o trabalho. Depois vou ligar na unicamp para saber se posso ir lá na próxima segunda feira, porque esses casos só são atendidos nas manhãs de segunda.
De repente tudo isso está servindo para eu aprender a me tornar uma pessoa mais calma e a lidar melhor com as frustrações mesmo.
Tanta coisa intrigante e sem explicação acontecendo. Melhor não pensar muito e não sair correndo aflita por nada.
Tenho sentido muito calor e muita sede. Muito mesmo. Fora isso eu vou ao banheiro cerca de 3 vezes por noite. Acordo sempre com muita sede também.
Aquela história de que o útero começa a pressionar a bexiga e isso faz com que a gestante vá mais ao banheiro deve ser conversa fiada. Se eu for 3 vezes ao banheiro a noite em cada uma delas vou liberar um volume considerável de urina. Não me parece que tenho uma bexiga reduzida.
Tanta mudança acontecendo no meu corpo, é o líquido amniótico sendo renovado a todo tempo, todo o volume de sangue a mais e a necessidade de me livrar de toxinas, é óbvio que a necessidade de me hidratar iria aumentar muito mais. Sinto muita sede mesmo e a consequência de beber tanta água é ir tantas vezes ao banheiro.
O colostro não voltou a aparecer. Foram vários dias saindo toda noite e depois parou de sair. Esqueci de perguntar para a médica se é normal. Estive em uma consulta com ela na sexta feira da semana passada. Ela ficou bastante tempo ouvindo o coração dele, prestando atenção se encontrava algum tipo de arritmia. Ouvir o coração dele me intriga, não dá para acreditar que tem problema alí, é tao certinho.
Mas deu para perceber que o coração dele se acelerava mais quando ele se mexia. Saia da casa dos 140 por minuto para mais de 160 por minuto. Ela falou que é normal isso.
À propósito, ele se mexe demais. É o tempo todo e é muito forte. Deforma toda a barriga. Eu desconfiou que no sábado ele estava soluçando porque a barriga vibrava ritmadamente. Ficou alguns minutos assim. Eu gostei de notar isso porque dizem que o soluço é muito saudável para o bebê, dizem que é um exercício respiratório para ele e eu tenho receio que ele tenha dificuldade para se alimentar e respirar devido a fissura lábio palatina. Se ele soluçou deve estar conseguindo ingerir líquido também e talvez isso seja um sinal que o polidramio não vai aumentar mais.
Agora eu passei da fase de fingir que não é comigo para a fase de certamente não é comigo. Não preciso acreditar em nada do que me disseram porque não vai ajudar  nada agora. Não tem como ter certeza de nada de uma criança que não nasceu e eu ainda posso curtir as semanas de gestação que me restam.
Nesse final de semana fomos fazer um ensaio fotográfico de gestante e foi muito bom. Não vou deixar de curtir minha gestação porque me disseram tantas coisas assustadoras.
E assim começa a semana de número 33.

domingo, 29 de março de 2015

Lembrancinhas

Comecei ontem a fazer sapatinhos de EVA. Estou adorando ficar fazendo isso porque eles ficam muito bonitinhos e dá para fazer lembrancinhas bem legais da maternidade com eles. Ainda não decidi quantos vou fazer, cortei só 15 até agora. Acho que vou fazer 30.
Comprei mais material para montar mais coisas junto com o sapato, ainda não decidi ao certo como serão as lembranças mas dá para inventar muita coisa.



Esse tipo de trabalho é uma ótima distração. Adoro fazer artesanato e nunca tinha feito nada assim, achei um vídeo na internet explicando como fazer os sapatos e decidi arriscar. O material mais caro foi o revólver de cola quente que custou 35 reais, o resto foi tudo baratinho. 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Meus sonhos

Ele estava agitado nesta noite. Acordei com ele mexendo muito. Coloquei as mãos na barriga e fiquei sentindo a minha barriga se deformando conforme ele se mexia.
Entre uma cochilada e outra eu sonhava que estava deitada na beira de uma praia sentindo e olhando minha barriga se mexer conforme ele se movia lá dentro.

"Você está crescendo rápido."

De manhã estava relembrando esse e outros sonhos que já tive. Alguns sonhos são sonhos repetidos, eles se repetem por anos e anos.
O primeiro e mais antigo é o de que estou num quarto parindo. De repente um menino pula de dentro da minha barriga e vai engatinhando em direção à porta. Quando chega na porta ele se levanta, vira, se despede de mim e vai embora caminhando.
Esse sonho é tão antigo, a primeira vez que me recordo de tê-lo sonhado eu ainda morava na casa dos meus pais e eu fui embora de lá com 17 anos. Hoje estou com 30 anos e ele já se repetiu várias vezes.
Tem outro sonho repetido, um pouco diferente desse mas que envolve nascimento e não sai mais da minha cabeça.
Lembro que quando meu irmão caçula nasceu eu estava com 13 anos. Minha mãe estava com 36 anos, era seu quarto filho e ela teve vários problemas na gestação dele. Quando ele nasceu ela me falou que achava que se ela engravidasse novamente ela morreria.
No sonho a minha mãe aparece grávida do seu quinto filho. Ele nasce, é um menino que nasce cheio de problemas. Eu sempre vou vê-lo, chego a pegar no colo com medo por ser tão delicado devido aos seus problemas. Mas, logo alguém vem me falar que ele faleceu.
Eu já perdi a conta de quantas vezes esses sonhos já se repetiram. Ambos são de muito antes de eu engravidar e eu já pensei muito neles desde que engravidei.
A noite, enquanto ele se mexia eu pensava que queria poder fazer algo para garantir que ele vai nascer bem. Tudo que eu posso fazer eu faço, mas não há garantia de nada.
Fiquei muito tempo com medo de não conseguir gostar dele ou de não achá-lo bonito. Várias mães tem filhos lindos e perfeitos e não conseguem gostar deles. E se eu for uma mãe assim? Que espécie de monstro eu seria?
Mas, enquanto ele se mexia eu sentia uma coisa tão louca, uma vontade de enorme de pegá-lo para um abraço bem apertado.
Acho que vai ser impossível não gostar dele.

terça-feira, 24 de março de 2015

Carta do Cirurgião Cardíaco

Essa é a carta que o cirurgião cardíaco escreveu para que eu leve para a obstetra:

"Avaliei a gestante Bruna Coimbra Perboni que está c/ o seu filhinho Dário portador de cardiopatia congênita complexa. Em relação ao local de nascimento considero que a maternidade de Campinas seja  o melhor lugar para o nascimento e para as condutas iniciais. Em relação ao momento do nascimento considero que entre 39 e 40 semanas seria o mais adequado e, embora o parto vaginal não seja contra-indicado, considero que o parto cesárea envolve menos risco para o bebê e permite melhor programação quanto ao tratamento pós-natal."


 
 
Eu não vou programar cesárea nenhuma, nem ferrando. Ainda mais que outros médicos já disseram que é melhor que ele nasça de parto normal, nesse caso eu prefiro escutar os médicos que estão falando o que me agrada.

Chega de consultas

E se nascer uma menina sem problema algum? Ou, e se eu não estiver grávida de verdade?
Putz, e se nada disso aconteceu e, na verdade, nem o Felipe existe?
Se foi tudo uma alucinação ou pesadelo?
Ou é isso mesmo, do jeito que contei.
Fiquei dias, semanas, acordando e esperando não encontrar em casa nenhuma evidência que foi tudo verdade. Mas sempre encontro em casa a pasta com todos os exames. Só que não dá para fazer nada mesmo, nem dá para ter certeza de tudo também, porque acontece tanta coisa estranha por aí.
Agora é melhor aproveitar as semanas que faltam antes de chegar nas últimas semanas de verdade. Daí vai rolar uma tensão por conta das espectativas do trabalho de parto começar. Ainda estou com 32 semanas, mas no final de abril acho que as coisas mudam devido a proximidade da data prevista do parto.
Eu estava pensando em não ir mais em consulta alguma desde a última consulta com o cirurgião cardíaco. Resumidamente ele disse que não dá para prever nada até o Dário nascer, então foi só uma consulta desgastante que não agregou nada de significativo. Só me deixou mais estressada, muito mais estressada.
Eu achei que tinha mais uma consulta ontem com a obstetra, fomos até o consultório mas a consulta é para sexta. Não sei quem errou mas foi bom. Não quero mais consultas. Esses médicos entram em contradição, cada médico fala uma coisa e eu fico maluca. Tem médico que fala que tem que ser parto normal e outros que tem que ser cesárea. Alguns falam que tem que nascer na unicamp porque ela recebe mais casos assim e tem mais experiência, outros dizem  que a unicamp não quer bebês cardiopatas porque ela não sabe o que fazer com eles. Eu fico perdida e maluca ouvindo tudo isso, então eu decidi que vou fazer o que acho que vai ser melhor para nós e ponto. No final pode dar tudo errado, mas eu não sei escolher nada e nem os médicos entram num consenso. Vai ser parto normal e ponto. Se na hora não der certo o parto normal, então não deu, mas eu não vou marcar cesárea mesmo. Não quero antecipar o parto nenhum agendando uma cesárea.
Tem como extrair coisas boas de tudo isso então é melhor focar nisso. Talvez até as pessoas do nosso convívio estejam extraindo algo disso tudo. Algumas pessoas são tão intolerantes com os filhos e reclamam tanto deles, mesmo eles sendo perfeitos. Outras pessoas que estavam na dúvida sobre ter ou não ter filhos talvez decidam não se aventurar mais.
Não vou dizer que é melhor eu não tentar mais, só vou dizer que é melhor eu estar disposta a assumir todos os riscos de uma gravidez e pode ser que isso demore um pouco.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Cardiopatia e fissura lábio palatina

Cerca de 1% dos nascimentos é de uma criança cardiopata. Existe, inclusive, vários casos de gêmeos em que só um dos bebê é cardiopata. 
Aproximadamente 1 em cada 650 nascimentos é de uma criança com fissura lábio palatina. 
Qual a probabilidade de se ter um bebê com os dois problemas? 
O cirurgião cardíaco disse que pode ser que ele tenha uma síndrome chamada DiGeorge. Depois que eu pensei se essa síndrome não teria aparecido no cariótipo. Devia ter pensado nisso para ter tirado a dúvida na hora. Ele disse que quando tem essa síndrome nasce sem uma glândula chamada timo, que quando fosse operar o coração, ao abrir o peito do Dário ele vai poder ver se ele tem o timo.
Bruna: "Mas pera, não dá para ver isso no ultrassom? Só abrindo o peito dele mesmo??".
Médico: "Agora você me pegou."
Peguei nada. Hora que eu pegar alguém vai ser para partir a pessoa em mil pedaços. Do jeito que eu estou estressada. 
Bruna: "E quais são as chances de ter um segundo filho cardiopata?"
Médico: "Dobra. De 1% vai para 2%. Ainda assim é pouco, mas dobra."
Pouco o escambau. Era de 1% e aconteceu comigo e ainda tem a fissura no lábio. 
Enquanto isso ele vai crescendo. Mexe demais. Tenho sentido um pouco de dor nos ligamentos da virilha. Dói a noite quando viro de um lado para o outro na cama. Os ligamentos vão se afrouxando mesmo para preparação para o parto. Todos os ligamentos do corpo ficam assim, por isso que dizem para não fazermos atividades físicas de impacto, como correr. 
O colostro nunca mais saiu. Não sei o que houve, mas já tem vários dias que sumiu. Será estresse? Não sei, só sei que não adianta me falar para eu ficar calma. 
Estou me irritando com tudo, fico me controlando para não explodir. Me sinto uma monstra quando começo a me irritar. Odeio quando me perguntam: "Tudo bem?"
Não sou uma monstra? Mas sempre que me perguntam isso eu olho para a pessoa e penso que não, não está tudo bem porque ele não está bem e ninguém sabe o que vai acontecer quando ele nascer, se ele vai resistir fora da barriga.  
Pode me chamar de monstra sim, tem horas que eu me acho assim mesmo porque não consigo me controlar. Por isso que tem horas que prefiro ficar sozinha. 

terça-feira, 17 de março de 2015

Ser positiva

Eu que sempre reclamei de pessoas negativas não estou conseguindo ter muito otimismo agora.
Hoje cheguei em casa super irritada. Encontrei o Felipe sentado na sala. Ele veio conversar comigo normalmente, fazendo perguntas rotineiras, mas eu não estava muito afim de responder nada.
Bruna: "Lindão, estou muito irritada."
Felipe: "Com o que?"
Bruna: "Não sei, vou tomar um banho para ver se passa."
Fui tomar banho e quando voltei ele veio com as brincadeiras que sempre me fazem rir.
Comentei com ele sobre algumas coisas que as pessoas falam que me irritam, como quando perguntam do quarto.
Felipe: "As pessoas falam o que pensam. Elas estão sendo sinceras, você tem que ficar feliz por isso."
Falei para ele que ainda vão acontecer muitas coisas e eu não sei se vou poder ajudar muito. Como no pós parto, não sei como estarei. E se eu não tiver recebido alta e tive que ser feito algo super urgente? Vai sobrar para ele. E se eu entrar em choque e não conseguir fazer nada por dias ou semanas? Vai sobrar para ele.
Felipe: "É só eu andar com uma moeda no bolso."
Ele tem uma solução simples para tudo. Vou usar uma moeda para decidir o local do nascimento e o tipo de parto. A cardiologista disse que é melhor ele nascer de parto normal e o cirurgião disse que tem que ser cesárea. Cada médico fala uma coisa e isso me deixa louca porque eu não sei decidir muita coisa e nem estou com cabeça para decidir tantas coisas dessas dimensões.
Hoje é dia 17 de março. A data prevista do parto é dia 17 de maio, quando completo 40 semanas. São dois meses até completar 40 semanas. Ainda tem um tempinho mas isso não significa que ele vai nascer de 40 semanas.
A sensação que dá é que minha barriga vai explodir até lá, porque já está enorme e ainda estou com 31 semanas.
Eu ainda estou pensando na avó com o netinho ontem. Será que a mãe não estava lá por opção?
Em outros tempos eu teria criticado uma atitude assim, mas agora eu sei como é pesado tudo isso. É um choque descobrir que o bebê tem um problema. Poucas pessoas suportam isso e eu acho que estou sendo péssima porque não sou nem um pouco positiva.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O Cirurgião Cardíaco

Fomos à primeira consulta com o cirurgião cardíaco. Chegamos no consultório junto com uma velhinha carregando um menininho. Eram avó e neto. Estávamos sentados na recepção aguardando o médico nos chamar quando um senhor chegou também. Era o avô no menino. Ele nos cumprimentou e perguntou se o nosso também iria operar.
Pelo também deduzi que o bebezinho já havia sido operado. Desde o começo estava prestando atenção nele, imaginei que ele fosse o paciente porque alí era o consultório do cirurgião cardíaco pediatra. Um menino super quietinho. Fiquei prestando atenção para ver se notava algo mais nele, mas me pareceu só um menino lindo e quieto.
Perguntei a idade dele e se ele já havia sido operado. Ele tem 1 ano e 4 meses e foi operado após fazer um ano.
Bruna: "Ótimo, ele sobreviveu e está bem.", pensei.
De repente o avô foi falar algo do pós operatório mas a avó o interrompeu.
Avó: "Não fala, ela está grávida!"
Fiquei pensando por um segundo se pedia para ele falar ou não. É claro que fiquei curiosa, mas não sei como vou reagir a nada mais. Nem imaginei que o ultrassom 4D fosse me alterar tanto, então achei melhor ficar quieta.
Fiz outras perguntas, lembro que perguntei quanto tempo ele ficou internado após a cirurgia e eles me disseram que o Osvaldo ficou 50 dias internado. De repente o avô começou com um: "mas depois que ele saiu...", mas a avô o interrompeu novamente dizendo para não me falar nada porque eu estou grávida.
Fui ao banheiro. Quando voltei o médico os chamou para serem atendidos, ele abriu a porta da sua sala e foi falando: "Oi Osvaldinho!!". Nisso o Felipe me disse que esse médico parecia ser muito legal.
Felipe: "Quando você foi no banheiro eles me falaram o que aconteceu, o bebê ficou cego."
Não consegui pensar em mais nada. Eles ficaram quase uma hora lá na consulta e o Osvaldo parecia que estava sendo torturado porque ele chorava muito. Fui ficando cada vez pior.
Depois a avó saiu com o neto e ele estava meio amuadinho, fiquei prestando atenção e ele não era quietinho, ele parecia um bonequinho de pano. A avô falava: "Calma, é a vovó, é a vovó."
Depois ela virou e me disse: "Tem horas que eu tenho vontade de sumir... se eu te falar o que ele tem você vai ficar com dó de mim e vai querer me dar dinheiro."
Médico: "A cirurgia foi um sucesso mas, infelizmente, ele ficou com essas sequelas."
Quando o médico nos chamou o sorriso de orelha a orelha ao dizer cumprimentar o Osvaldo havia desaparecido. Toda a expressão dele havia mudado.
Eu me esforcei muito para entender tudo o que ele foi falando após analisar todos os exames do Dário, mas minha cabeça estava dando nó. Só sei que ele disse que o melhor lugar para ele nascer é a maternidade de Campinas, de cesárea com 39 ou 40 semanas. Após isso ele deve ser transferido para a PUC para ser operado, caso necessite de operação, porque tudo vai depender de como ele evoluir até o final da gestação e após o parto. Pode ser que ele não precise ser operado mas que tenha que ser submetido a alguns procedimentos que não implicam nem em abrir o peito dele, então isso pode ser feito na maternidade mesmo.
O que seria realizado na PUC seria o tal do blalock, ele precisa abrir o peito dele para inserir um canal de comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar. Esse é um procedimento paliativo para que ele possa ser operado do lábio. Tudo vai depender do grau do problema do coração e do lábio. Porque o lábio pode ser mais problema que o coração, caso ele tenha muita dificuldade respiratória.
Dessa forma,o coração deve estar estável para operar a face.
Médico: "Existe uma questão estética e existe uma questão funcional."
Enfim, não dá para prever nada.
Ele só disse que é melhor nascer de cesária para ser algo bem programado na maternidade, para o caso de ter lá já disponível uma vaga na UTI e os médicos necessários para avaliar a evolução dele. Ele disse que não seria uma boa eu entrar em trabalho de parto num domingo de madrugada. Caso agendem um dia para a cesárea e cheguem mais emergências nesse dia que ocupem todas as vagas da UTI, então eles entram em contato comigo e agendam outro dia.
Na maior parte do tempo eu só ouvi um bla bla bla dele. Eu sei que não dá para prever nada e ele nos atendeu super bem, respondeu nossas dúvidas e explicou tudo direitinho. O que me deixou impressionada mesmo foi a avó com o neto lá na recepção. Cade a mãe do menino? Eles só souberam do problema do bebê após o nascimento, fizeram todos os ultrassons mas não foi identificado nada. Eles o levaram para casa mas notaram que ele tinha alguns problemas. Só então descobriram que ele era cardiopata. Fiquei impressionada. Deve ter sido um choque para ela, porque foi pior, ela enfrentou toda a gestação, levou o filho para casa, descobriu o problema, ele foi operado e ficou cego.
Avô: "Ele estava assim, brincando, e começava a passar mal..."
Será que a mãe dele não aguentou? Será que eu vou aguentar? Eu suportaria se fosse ele meu filho e eu o visse daquele jeito? E o Felipe, como vai reagir?
Ainda vai acontecer muita coisa e eu não sei se estou preparada não.



sábado, 14 de março de 2015

Fraldas

Hoje o plano era separar e lavar todas as roupas que ficarão na mala para a maternidade. Como a quantidade de líquido amniótico está aumentando é melhor já deixar tudo no jeito, vai que isso provoque um parto pré maturo... pelo menos ele está crescendo bem e rápido, mais algumas semanas e já estará bem gordinho e mais resistente para a cirurgia.
Mas o tempo não colaborou. Na verdade choveu a semana toda. Achei melhor não lavar nada para não ficar cheirando mofo, então fui fazer bainha das fraldas. Fiquei lembrando de quando minha mãe engravidou dos meus irmãos mais novos. Eu tinha 10 e 12 anos, então eu que fiz a bainha de todas as fraldas deles. Eles praticamente só usaram fraldas de pano. Como ela não tinha ninguém para ajudá-la em nada eu fui a pessoa que mais a ajudou.
O mais curioso foi a estranheza do Felipe ao ver essas fraldas.
Felipe: "Fralda de pano? Mas ele não vai usar fraldas descartáveis?"
Ele não sabe que fraldas possuem mil e uma utilidades.
Costurei muitas fraldas e todas elas eu ganhei de uma mesma pessoa, uma amiga. Fiquei pensando nela enquanto costurava as fraldas também.
Quando ela engravidou eu a critiquei intensamente. Achava que ela não estava se cuidando direito porque ela não seguiu a receita de bolo que os médicos dão para engravidar, como tomar ácido fólico três meses antes. Hoje ela tem uma filha linda e perfeita.
Não sei quantas vezes mais vou ter que pedir desculpas por tudo o que eu disse para que possa me perdoar por isso. Sempre penso nela, não só quando costuro as fraldas.
Vida: "Toma, idiota!"


Eu ainda não tinha costurado nada neste ano. Desde que os médicos começaram a fazer terrorismo dizendo que o bebê vai morrer eu encaixotei todas as coisas dele e não mexi mais também. Tinha feito várias peças de roupas mas parei de costurar quando fizemos o morfológico. Hoje abri a caixa para pegar as roupas que irão na mala e chorei litros de novo. 
Ontem pediram para eu dizer uma qualidade minha. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi que eu devo ser a pior pessoa do mundo porque parece que nem ser mãe eu mereço. Comecei a pensar que eu só queria ter um filho e todos dizem que não vai dar certo. Comecei a chorar descontroladamente e fiquei com muita raiva de tudo e de todos. 
Mas não é uma questão de merecer. Não é uma questão de nada. Não posso pensar nisso porque não me faz bem. 
Perguntaram se eu acredito em Deus e eu não respondi. Prefiro não dizer o que eu penso. Não estou pensando em nada direito e acho que ninguém merecia isso, muito menos meu filho.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Eu e o meu nariz

Não me diga que eu estou enfrentando bem isso porque eu não estou. Não tem como. Ainda não aceito isso e é difícil de acreditar. Ainda penso que tudo pode ter sido uma mentira ou um engano e que ele vai nascer sem qualquer problema.
As imagens do rosto dele que pegamos no ultrassom 4D são bem mais nítidas e tem sido bem mais complicado desde ontem. Eu já estava lidando um pouco melhor com tudo isso até fazermos o ultrassom de ontem.
Mas será que valeu a pena tê-lo feito então? Pensei nisso. Foi tão caro e já estamos gastando tanto com todos esses exames. No final das contas conclui que valeu a pena sim porque eu não sei como estarei após o parto. Acho que ainda virão muitas alterações hormonais que vão me deixar mais sensível e descontrolada. Isso não deve ser um choque e deve ser a menor das minhas preocupações dado que ele também é cardiopata, o que é muito mais delicado.
Não é um choque porque o achei feio. Não é isso, mas dói muito saber que ele tem esses problemas. Isso sim dói demais. Eu sempre vou pensar que eu errei em algo embora todos os médicos digam que não fiz nada de errado.
Já olhei as imagens do ultrassom e assisti ao DVD várias vezes e ainda não consegui parar de chorar. Vai mais um tempo.
Se fosse outra pessoa escrevendo essa história ela teria uma entonação completamente diferente. Mas sou eu, gestante, escrevendo sobre o meu filho que tem vários problemas que nunca imaginei para ele. Não estou conseguindo pensar direito sobre qualquer assunto.
Não me diga que o nariz dele se parece com o meu. Eu ainda não consegui entender como é o nariz dele e dói saber que ele tem problema no lábio, palato e nariz. Não sei quais dificuldades ele terá para se alimentar e respirar e, embora a cirurgia seja simples e geralmente ela é feita nos primeiros dias de vida do bebê, ele não vai poder fazê-la de imediato porque a prioridade é o coração. Ele vai precisar se recuperar da cirurgia do coração primeiro para depois operar o lábio.
Sempre debocharam do meu nariz por ser achatado. Já riram dizendo que tenho nariz de negro. Quando nasci meus pais ficaram apertando meu nariz para ver se mudava um pouco o formato dele e ficava menos achatado. Antes ele tivesse meu nariz mesmo. Faria qualquer coisa para que ele não tivesse nenhum problema.
E se ele não resistir? A moça da padaria, a do restaurante, a da farmácia, a do supermercado, todas as pessoas que sempre me vêem e perguntam dele vão falar o que?
"Você não estava grávida? Cadê o seu bebê?"
Vou ter que fugir da cidade para não ter que dizer o que aconteceu com ele. Vou querer sumir, com certeza.
Não sei o que quero ouvir das pessoas também. Na verdade varia de pessoa para pessoa. Tem certos assuntos que não quero conversar com certas pessoas. Deve ser normal isso, eu estou grávida e grávidas amam ou repudiam pessoas.
Felizmente chegou o final de semana e posso ficar chorando a vontade e resolver esse assunto sobre o ultrassom de ontem. Ainda bem que o Felipe está aqui comigo, ele sempre me ajuda bastante.
Nesse final de semana vamos começar a montar a mala da maternidade. Vai ter que ser uma mala porque ele vai ficar um bom tempo lá antes de vir para casa.

Unimed - Plano Participativo

Está ficando cada vez mais caro pagar por esse plano. Esses exames que tenho feito são muito caros e o valor da mensalidade subiu muito. O valor fixo para minha faixa etária e com obstetrícia é de 169,82. Para cada consulta ou exame que faço eu tenho que pagar uma parte do procedimento. Como o pré natal tomou um rumo diferente desde que foram indentificadas alterações no ultrassom morfológico o preço da conta subiu demais.
Pelo cariótipo do líquido amniótico tivemos que pagar 300 reais para o médicos ir realizar a punção. Essa parte a unimed não cobre, ela só cobre a análise do material coletado que custa 500 reais. Desse valor eu tive que pagar uma parte, por ser plano participativo. A minha parte ficou em 136,48  de 500 reais. Ou seja, pelo cariótipo gastei 300 + 136,48 reais. Uma facada. No final nem tinha nada de errado nos cromossomos dele.
Pelo ecocardiograma eu paguei 93,50 reais. Achei bem caro também. Depois que eu vi que também tem um outro serviço com o médico geneticista, veio descrito como "Aconselhamento Genético" e me foi cobrado 64,35 reais. Eu acho que o nome do serviço tinha que ser bem outro, porque foi mais uma consulta de indelicadezas, patadas e esporros. Esse médico é meio sem noção.
 



No final a fatura ficou em 429,82 reais. Bem salgado.



Felizmente consegui o encaminhando para o CAISM. Me ligaram ontem. Está marcado para o dia 30 de março. Nem ficou longe comparado com as datas que consigo pelo unimed. Ainda bem, porque lá no CAISM o atendimento é muito melhor que vários lugares que fui. Pelo menos quando fui lá fui super bem atendida. Desde o começo tenho notado que aqui o SUS é bem melhor que a unimed, deve ser porque tem a unicamp. Eu sei que em vários lugares do Brasil o SUS não é nada bom, mas aqui nós temos mais oportunidades de ter um atendimento de qualidade público.




quinta-feira, 12 de março de 2015

Ultrassom 4D

Fizemos o famoso ultrassom 4D hoje. O plano não cobre, então pagamos 350 por ele mais 18 reais para gravar.
Vimos o rostinho dele. Dessa vez ele não só mostrou o rosto como abriu a boca. Deu para ver o lábio leporino e a fenda palatina. Não sei dizer o que sinto quando vejo essas fotos. Só sei que eu queria muito que ele não tivesse nada disso e eu espero que ele não sofra com dificuldades para se alimentar e respirar.

Lábio Leporino e Fenda Palatina
 

 

 
Mão
 
 

 
Face

 
 
 
 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Corrida da Lua

No sábado fomos para mais uma corrida. Foi uma corrida noturna, começou às 20:00. Era para ser a corrida da lua, mas foi a corrida da chuva porque não parou de chover.
Fiz 6 km. Eu havia me inscrito na caminhada porque não sabia que conseguiria correr, então comecei correndo e terminei caminhando porque não deu mesmo.
A minha barriga parecia um imã, todos queriam colocar a mão. Fiz o percurso sem grandes problemas a menos da vontade de ir ao banheiro.
O Felipe fez 10 km. O mais legal foi que terminamos juntos com um pouco menos de 1 hora de tempo.
Achei a foto da corrida da lua do ano passado, é bem legal ver as diferenças. O Felipe não mudou nada, eu engordei vários kilos...


 
 
 

 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Procurando uma doula em Campinas

Estou com a cabeça tão a mil por hora que esqueci de ir numa reunião de um grupo de gestantes ontem. Queria ir lá para ver se conheço uma doula e se rola uma ligação com ela. Porque tem que ser assim.
Estou muito desiludida com muitos profissionais de toda essa área de gestação e parto porque sempre que apresento o meu caso tenho que ouvir alguma coisa que não me cai bem.
Já conheci algumas doulas pela internet e tenho conversado com elas pelas redes sociais. Tem doula muito simpática e agradável, outras são agressivas e radicais, parece que fizeram lavagem cerebral nelas. É claro que eu quero uma doula que me ajude no parto normal, mas uma que me transmita calma, confiança e segurança. Pelo menos eu imagino que esse é o propósito de se contratar uma doula, então gostaria que fosse uma pessoa leve, calma e delicada. Tem que ser o oposto de mim.
Talvez o maior problema sou eu mesmo. Não estou conseguindo me sentir segura com ninguém.
Eu sei que eu não estou no meu normal, é uma situação muito pior do que eu sempre imaginei, agora eu tenho que escolher várias coisas e tomar várias decisões que nunca imaginei que teria que tomar na vida.
Queria poder dormir enquanto alguém resolve tudo isso.
Eu não quero fazer uma cesárea porque acho que não vai ser preciso mesmo. Sempre confiei muito no meu corpo para parir e eu sei que o bebê não precisa nascer de cesárea. Também sei que ele vai precisar muito de mim após nascer e eu não quero estar debilitada por ter sido submetida a uma cirurgia. Já me basta estar emocionalmente debilitada.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Mais consulta e exame

Mais uma vez fui super bem atendida pelo SUS. A consulta estava marcada para às 11:30 da manhã, cheguei 5 minutos antes e às 11:30 a médica me chamou. Fiquei impressionada. Entrei na sala e expliquei para ela minha situação. Disse que queria um encaminhamento para o CAISM da unicamp e para o sobrapar. Ela analisou todos os meus exames e me tratou super bem.
Perguntei para ela o que ela achava que iria acontecer devido aos problemas do coração dele, se ele iria sobreviver ou não.
Médica: "A experiência me ensinou a ser humilde. Seria muito leviandade eu tentar prever isso."
Ela viu o cariótipo do bebê e eu perguntei para ela se ela conhecia o médico que o fez, no caso o dr. Walter Pinto. Ela foi aluna e paciente dele. Disse que na faculdade ele só falava de probabilidades, começava a falar e parecia aqueles narradores de jogo de futebol de rádio, falava sem parar sobre todas as probabilidades de o bebê ter algum problema. Depois ela comentou da gestação dela, que os médicos achavam que a filha dela tinha sindrome de down e a menina nasceu linda e perfeita. Médicos erram mesmo.
Médica: "Eu sei que você veio só pedir um encaminhamento mas eu sou médica à moda antiga, gostaria de medir sua pressão e ouvir o coração do bebê."
Meu filhotinho ficou a consulta toda se mexendo sem parar. Ouvimos o coração dele e é difícil acreditar que o ele tem problema.
Minha barriga está enorme e dura, ela disse que é devido ao excesso de líquido. Faz sentido, ela tem ficado cada vez maior e mais dura e dá para perceber que o bebê tem espaço lá dentro. Fiz um ultrassom nesta semana e a médica viu que ele está bem folgado mesmo devido ao excesso de líquido. Isso se chama polidrâmnio. Geralmente acontece quando o bebê possui algum problema no esôfago que o impede de engolir o líquido amniótico. Mas a médica disse que tem casos que o bebê não tem problema nenhum e eles não conseguem explicar o motivo de acumular líquido. Tomara que isso não provoque um parto prematuro, a cardiologista disse que se ele nascer antes do tempo eu vou ter dois problemas, a prematuridade e a cardiopatia.
Foi bom ter feito esse ultrassom na terça. Eu não dormi a noite com medo de achar mais algum problema, mas correu tudo bem. A única coisa mesmo que a médica identificou foi o excesso de líquido. O guri está ótimo e grande, está até acima do tamanho e peso para o tempo de gestação. Mexe demais, estava brincando com o pé. A placenta está ótima e o cordão está levando a quantidade de nutrientes correta para o bebê. A circulação sanguínea no corpo dele também está ótima. Ela mediu a circulação dentro da cabeça dele, eu não sabia que tem como fazer isso.
Marcamos um ultrassom 4D para semana que vem. O plano não cobre mas achei legal fazer particular mesmo. Quero ver como é o lábio leporino e a fenda palatina dele. Tomara que no dia ele esteja numa posição boa para vermos.
Tanta coisa sem explicação e tanta correria nesse pré natal. Sei que muita coisa ainda está por vir, mas é melhor não me preocupar muito com isso agora.

Preparação para cirurgia cardíaca

Está tudo bem desatualizado aqui sem as últimas 20 consultas das últimas duas semanas. Estou exagerando, é claro, mas tem sido uma média de 3 consultas por semana para definir tudo do parto e cirurgias.
Na semana passada tive retorno com a obstetra, foi quando ela soube que o bebê não possui síndrome nenhuma. Deu vontade de chamá-la de filha da puta desgraçada por ter feito a porcaria do terrorismo comigo ao dizer que ele possuia uma síndrome incompatível com a vida mas ainda preciso dela para me dar as guias para fazer os exames da unimed.
Mostrei, além do resultado do cariótipo, o resultado do ecocardiograma. Ela foi dizendo que não era a especialidade dela e me encaminhou para um cirurgião cardíaco. Ficou um tempão fazendo cara de espanto e olhando para o laudo do eco. Desgraçada. Isso é muita falta de profissionalismo. Se não é especialidade dela ela deveria encaminhar para o cirurgião e ponto final.
Comentei com ela que ela foi mais correta que o médico geneticista que havia dito, mesmo não sendo a especialidade dele, que o bebê vai nascer e morrer por causa desse coração inviável. Nessa hora ela olhou para mim e disse: "Dá vontade de dizer isso...".
Sério, tem horas que eu acho que a qualidade de tudo está um lixo, até a qualidade da medicina no Brasil, porque isso não é foma de lidar com um paciente numa situação tão delicada.
A obstetra disse que o cirurgião pode falar que não vale a pena operar o bebê, neste caso é melhor pensar na mãe e fazer parto normal. Do contrário, é melhor não arriscar que ele "sofra no canal durante um parto normal", então ela faz uma cesárea para que ele seja operado logo em seguida. Nem ferrando que ela vai vir cortar minha barriga por conta disso. Fui conversar com a cardiologista na semana passada depois disso, ela disse que não é nada disso, que é melhor que o bebê nasça de parto normal mas que o obstetra vai querer fazer uma cesárea para se proteger, só isso. Ela disse que o geneticista não podia ter afirmado que ele vai nascer e morrer porque não tem como prever isso.
Essa cardiologista é ótima, é a Dr. Ana Paula Damiano. Ela foi super bacana em nos atender para uma consulta para tirar essas dúvidas sendo que ela só faz eco.
Ela explicou várias coisas, disse que dificilmente o bebê é operado antes de uma semana de vida porque há um tempo até que o corpo dele se adapte fora da barriga. São várias mudanças para que todos os órgãos comecem a funcionar bem fora do útero e é até legal esperar um pouco mais para ele ganhar um pouco mais de peso. Enquanto isso ele fica na UTI. Depois disso ele é operado e ele pode ser transferido para o local da cirurgia.
Infelizmente a maternidade de Campinas não faz cirurgia cardíaca, então ele tem que nascer ou na PUC e ser operado lá, ou em algum outro lugar e depois ser transferido para o local da cirurgia, que poderá ser a PUC ou o centro médico.
Na semana que vem vamos conversar com o cirurgião cardíaco para obtermos mais informações sobre a cirurgia. Nós realmente gostaríamos que fosse no centro médico que é mais próximo de nossa residência. Após a cirurgia ele vai ficar pelo menos um mês internado, por isso gostaríamos de estar próximos de casa.
Nesta semana fui fazer o ultrassom obstétrico com doppler colorido. O bebê está enorme e acima do peso! E os médicos dizendo que ele iria morrer dentro da barriga! Tinham que dizer isso mesmo para mim?? Ele está aqui, enorme. Chuta que é uma beleza. Neste ultrassom deu tudo normal, a única coisa que ela observou é que está com um pouco mais de líquido. Parece que há uma relação com o fato de ele possuir lábio leporino e fenda palatina. Mas a quantidade de líquido a mais é pouca.
Hoje vou na primeira consulta com uma obstetra pelo SUS. Pelo que entendi preciso de encaminhamento para entrar no sobrapar para fazer a cirurgia da face. Vou lá conversar com a médica para obter mais informações. Também quero ver com ela a possibilidade de eu ter o bebê no caism mesmo. O caism é o lugar que fui mais bem tratada até agora.
Ontem também fui na terapeuta. Ainda bem que tenho a chance de fazer terapia e não é com qualquer terapeuta. Ela é ótima e tem me ajudado bastante.
Fora tudo isso estou fisicamente ótima. A barriga está enorme e atrapalha fazer qualquer coisa que envolva uma flexão para a frente, mas consigo viver bem com isso. No sábado vou na corrida da lua. Serão só 6 km que vou alternar entre caminhada e corrida leve.
E a vida continua, tem dias que estou mais animada, outros estou mais jururu. Ainda estamos nos adaptando a tudo isso.

terça-feira, 3 de março de 2015

Estou cansada

Fico o tempo todo me sentindo péssima por não poder fazer nada que possa ajudá-lo e mudar tudo isso. Dói saber que estou gerando um filho que vai sofrer tanto, que vai ter dificuldades para se alimentar, respirar, vai sentir falta de ar, vai ter que fazer várias cirurgias, vai viver indo em médicos, vai sentir muito mais dor e não poder fazer nada para evitar isso.
A única opção que os médicos me deram é de interromper a gestação.  Por que tem que ser tão injusto assim? Por que só interrompendo a gestação eu posso impedir que ele sofra tanto?
É evidente que vou sofrer muito mais que ele ao vê-lo sofrer. Vai doer muito mais acompanhar tudo isso. Vê-lo nascer e ter que ficar tanto tempo no hospital sem poder ir para casa. Ser tão pequeno e já passar por tanta coisa.
Eu sempre sonho que ele nasce e é um bebê perfeito. Não tem nada disso. Eu pego ele no colo e fico super feliz olhando e perplexa com tudo porque, de repente, foi tudo uma mentira. Mas hoje eu sonhei que ele era um ursinho de pelúcia todo velhinho e rasgadinho. Ele estava dormindo no berço e quando acordou eu fiquei com medo de pegá-lo. Peguei com todo cuidado do mundo, com medo de sair mais espuma dos furos no corpo dele.
Quando eu era criança eu tinha um cuidado tremendo com meus brinquedos. Ficava doente quando via que a minha irmã tinha estragado alguma coisa, como a boneca que ela perdeu um braço. Eu não me conformava que a boneca não tinha um braço e era impossível brincar com ela daquele jeito. Procurei tanto o braço da boneca mas nunca achei. Também teve a barbie que ela quebrou a perna. Eu não conseguia entender como ela tinha conseguido fazer isso mas ficou óbvio que ela ficou chateada por isso.
Agora eu vou ter um filho com vários problemas. Vai ser muito pior que uma boneca sem braço, com certeza. Foi horrível naquela época mas vai ser muito pior agora. Não tem comparação.
Hoje vamos fazer mais um ultrassom. O que será que vão falar? Cada médico fala uma coisa. Ficam competindo para ver quem acerta quando ele vai morrer. Ficam competindo para acertar o que ele tem. Ficam me torturando.
Cada médico fala uma coisa sobre o tipo de parto e cada médico fala uma coisa sobre o quanto o coração dele vai resistir. De todos os cenários o coração dele nunca resiste. Se o coração dele resiste ele fica com retardo mental devido às várias cirurgias no coração e face e, também, tem que ir mais ao cardiologista do que ao pediatra.
Eu acho que vai chegar uma hora que eu vou explodir. Não quero magoar ninguém. Não quero explodir com ninguém mas estou muito estressada com tudo isso porque é muito injusto. Será que eu não mereço ser mãe?
Se tudo fosse uma mentira ou engano, é claro que eu iria ficar muito feliz. Feliz demais mesmo. Nenhuma pessoa normal gera um filho para vê-lo sofrer ou morrer, ninguém quer isso.  Só se for uma louca desvairada.
Eu quero mais é que tudo se exploda. Se existe um Deus ele pode até me mandar para o inferno mas eu vou querer passar essa história a limpo com ele.