sábado, 31 de janeiro de 2015

Interromper a gestação?

Como assim, interromper? Isso soa tão absurdo quando os médicos falam. Tudo que eles disseram até agora é tão pesado que eu acho que eles não disseram da forma correta. Não houve nenhum tipo de preparo para dizer essas coisas. É muito pesado falar isso para uma mulher grávida.
E eles conseguem piorar isso cada vez mais.

"Você PODE interromper a gravidez."
"É MELHOR você interromper a gravidez."
"Você TEM que interromper a gravidez."

Quando eles falam isso eu só escuto:

"Você PODE matar seu filho"
MELHOR você matar o seu filho."
"Você TEM que matar o seu filho."

Felizmente ele está dentro da minha barriga e quem decide isso sou eu. Eu decido até mais que o Felipe, porque não é no corpo dele. Em nenhum momento os médicos falaram do risco de se interromper uma gestação e eu sei que existem vários riscos.
Como eles falam isso de algo que está dentro de mim? Do meu filho?
Quando uma pessoa decide engravidar ela assume um risco e um compromisso. Não dá para saber como o bebê será. Eu queria menino e é menino. Eu queria que nascesse em maio, a previsão é de que nasça mesmo. E se fosse uma menina que fosse nascer em fevereiro? Ela iria deixar de ser minha filha por causa disso? Ele deixou de ser meu filho quando eu descobri que ele tem problemas no coração?
Ele ainda é meu filho e ele ainda está vivo. Enquanto isso eu cumpro com meu papel de mãe e cuido dele. Cuido mesmo.
Quando conto isso para as pessoas é comum elas dizerem se interromperiam ou não. O que não é correto é alguém sugerir que eu interrompa. Eu não pedi a opinião de ninguém sobre isso.

"É melhor você interromper porque você está nova e pode tentar de novo. Se ele tem tantos problemas ele será um peso durante toda a sua vida."

O que eu ouvi sobre isso:

"É melhor você matar esse lixo de filho que está na sua barriga porque ele só vai ser um estorvo."

Eu não vou permitir que me falem isso de novo. Muito menos para o Felipe. Porque é mais fácil para ele ir nessa onda de pensamento já que não é no corpo dele e ele não está sentindo que o bebê está aqui, crescendo, mexendo e chutando.
Se o meu bebê não resistir e morrer eu também não vou engravidar logo em seguida. Não é igual um forno que dá para assar um bolo depois do outro. A gestação é muito agressiva para o corpo. Eu sei que os médicos querem que interrompa por causa disso, mas agora eu já estou com a gravidez bem avançada, não vai fazer diferença.
Se eu parir meu bebê e ele morrer vai ser algo bem traumático. Mas pelo menos eu vou saber que eu fiz tudo o que pude por ele. Se eu interromper minha gravidez eu vou ficar o resto da minha vida remoendo isso. Vou ficar pensando: "Será que os médicos estavam mesmo certos?" ou "E se eu tivesse levado a gravidez até o final, o que teria acontecido?". Isso seria muito mais traumático.
Ele é o meu filhotinho. De vez em quando ele me acorda a noite mexendo. É uma delícia. Assim eu sei que ele ainda está aqui comigo e vai continuar até quando ele quiser.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Punção do líquido amniótico

O exame estava marcado para 11 da manhã, mas me ligaram mudando para 13 horas. Eu queria resolver isso logo, embora estivesse super nervosa. Para preencher a manhã fui podar umas árvores da frente de casa. Melhor assim.
Quando foi meio dia o Felipe chegou para irmos na clínica. Quando chegamos lá tive que assinar um papel dizendo que estou ciente dos riscos do procedimento, para a mãe e o bebê. A probabilidade de ter algum problema é perto de zero, mas a probabilidade de ter um filho com síndrome de Edwards também. O médico geneticista até brincou uma vez dizendo que eu poderia jogar na loteria. Assinei o papel e fui orientada a ficar com a bexiga cheia.
Logo o médico chegou. O mesmo médico insensível do outro dia chegou cheio de brincadeiras e gracinhas.
Deitei na maca e ele fez ultrassom para ver qual o melhor lugar para inserir a seringa. O bebê estava lá, mexendo como sempre.

Médico: "É macho, né? Olha o pipi alí."

Ele escolheu uma área boa e começou a esterilizar minha barriga.

Bruna: "Dói?"
Médico: "Você pode ficar tranquila que eu não vou sentir nada!"

Eu acho que ele percebeu que eu estava nervosa e estava tentando quebrar o gelo.

Médico: "Está gelado? Já já esquenta porque na esterilização a gente flamba, daí fica quentinho."

Ele jogou tanto álcool na minha barriga e era gelado mesmo. Depois ele colocou outro tecido estéril em cima das minhas pernas para colocar todos os materiais que ele iria usar. Foi quando eu virei a cabeça e fechei os olhos. O Felipe ficou olhando tudo. Depois ele me explicou o que eles fizeram e eu quase desmaiei só de ouvir.
Doeu igual tirar sangue mesmo. Super suportável. O problema é só a tensão. Medo de espetar o bebê. Vai que ele resolve virar uma cambalhota na barriga... por isso que eles ficaram o tempo todo com o ultrassom ligado olhando tudo o que estava acontecendo enquanto extraiam um pouco de líquido.
O Felipe disse que enfiaram uma agulha fina, depois tiraram para enfiar uma mais grossa e depois tiraram essa e enfiaram uma mais grossa ainda. Com essa última agulha eles encheram 3 frasquinhos com líquido, só que no primeiro saiu sangue no começo. Afe... ainda bem que eu não vi nada.
Durante o exame tive a sensação que eu tinha feito xixi porque senti tudo molhado. Falei isso para ele e ele disse que não tinha problema e continuou. Depois eu vi que não era xixi, era álcool que tinha escorrido mesmo.

Médico: "Você foi ótima."

Eu desconfio que muita mulher deve ter ficado bem nervosa nesse exame. Ele já deve ter presenciado muita coisa durante essa punção.
Depois fomos para outra sala e ele foi olhar o resultado do ecocardiograma.
Falou um monte de coisas. Disse que iria ligar para a dr. Ana Paula mas que achava que com esse coração o bebê não vai viver nem algumas horas. Será? Eu não sou médica, mas o bebê já chegou até aqui!

Médico: "Vou colocar um esparadrapo na sua barriga que é para quando você beber água ela não escorrer."



Agora eu tenho que esperar o resultado desse cariótipo para saber se o bebê tem a síndrome de Edwards mesmo.


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Tenho que curtir minha gestação!

Saiu o resultado do exame de sangue que fiz ontem. A médica desconfiou que eu estivesse com diabetes porque ela achou o bebê muito grande. Mas eu não estou, sempre cuidei muito bem da minha alimentação.



Mas, ontem eu estava pensando que eu ainda estou grávida e ainda tenho que me preparar para o parto. Eu tinha perdido o foco dessas coisas depois de tudo o que aconteceu desde o dia do exame morfológico. Foi um choque mas isso não significa que não devo curtir minha gestação e continuar me preparando para o parto. Ainda me sinto fisicamente ótima, só um pouco mais pesada e lenta, mas do resto está tudo normal.
Hoje foi pedalar, caminhar e fazer yoga. Deu tudo certo e foi divertido, mesmo estando sozinha.






Essas fotos são todas de hoje. Estou com 24 semanas de gestação e meu bebê já provou que é igual a mãe dele. Ele ouviu esse bando de médicos falando que ele não vai durar nada, que vai ter morte súbita antes de nascer ou, se nascer, vai nascer e morrer, então ele disse: "Ah é?? Vocês não sabem de nada!". O guri só cresce e faz estrago mesmo. Nunca imaginei que uma gestação fosse tão agressiva para o corpo. E olha que e eu estou bem se comparar com o que a gente vê por aí. Dizem que conforme a barriga cresce o centro de massa da mulher muda e ela começa a tropeçar nas coisas. Eu acho que minha barriga já está bem grandinha e eu ainda tenho consciência corporal o suficiente para ficar de cabeça para baixo.
Eu perguntei para todos os médicos se podia continuar fazendo essas coisas. Todos disseram que sim, porque eu estou ótima. "Seu útero está ótimo, sua placenta está ótima e você está ótima.". Todos disseram que essas coisas não vão prejudicar o bebê.
Na verdade é para contradizer todos os que pensam que não se pode fazer atividade física durante a gestação. Dizem que meu bebê é tão frágil mas ele já correu uma meia, participou de várias de corrida de rua, já pedalou vários quilômetros de bicicleta e já fez posições de yoga mais absurdas que essas da foto. E ele está aqui, crescendo, engordando e chutando. Uma gracinha de bebê. Meu filhotinho forte.
Amanhã vou fazer o cariótipo para saber exatamente o que ele tem. Esse exame meio que me assusta. Antes eu sempre desmaiava quando ia tirar sangue, até que eu decidi que eu tinha que dar um jeito de parar com isso porque um dia eu iria parir um filho. Foi um trabalho mental bem intenso para não desmaiar mais, porque esse negócio de desmaiar é psicológico mesmo. Mas nunca imaginei que um dia iriam enfiar uma seringa na minha barriga para entrar dentro do meu útero e tirar um pouco de líquido. Não bastasse isso ser assustador o suficiente eu pensei no seguinte: "E se o médico espetar o bebê???".
Na verdade eu fiquei a vida toda me preparando para ter um filho achando que eu teria um filho igual ao que a gente vê por aí. Que seria tudo normal e perfeito. Nunca imaginei que tudo isso pudesse acontecer.
Mas eu ainda estou grávida e ele está aqui comigo, então eu tenho mais é que curtir isso mesmo. Ontem aconteceu algo incrível, fui no supermercado e achei seriguela e coentro! Quase chorei de emoção. São duas coisas praticamente impossíveis de se achar aqui. Dando atenção os meus desejos de grávida eu comprei tudo! Vou voltar lá hoje e comprar mais seriguela, se ainda tiver.










segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CAISM - unicamp

Hoje de manhã fui fazer exame de sangue e já aproveitei para ir no CAISM ver o que falam do meu caso. Fui pedalando mesmo, é aqui perto de casa, são só 4.2 km. Cheguei lá em 28 minutos, fiz o exame de sangue e não desmaiei. Depois fui para o CAIMS.
Cheguei lá e, após passar pela recepção, fiquei aguardando me chamarem. Até que foi rápido, logo me chamaram para ir para a triagem.
Na maior parte do tempo eu tento fingir que não é comigo porque quando não faço isso eu começo a chorar alucinadamente. Certamente isso é muito constrangedor para mim e as pessoas que assistem ficam sem saber como reagir. Talvez a maioria das pessoas até pense que sou muito fria e que não estou nem aí porque a maioria delas me vê quando estou conseguindo fingir que não é comigo.
Eu entrei normal, sentei, a enfermeira se apresentou e depois expliquei o meu caso para ela. Ela pediu para ver o resultado do ultrassom. Ela pegou a pasta e explicou que lá existe uma equipe de genética fetal, que seria interessante eu ir em uma unidade básica (posto) primeiro para que me encaminhassem diretamente para a genética fetal porque indo no CAISM sem encaminhamento eles não poderiam me enviar para lá, tem que ser a partir da unidade básica.
De repente, nós estávamos conversando sobre isso, sobre os procedimentos e tal e eu comecei a chorar. É que é complicado. Quando o médico não é cavalo e já vai soltando um monte de desgraças ele faz cara de piedade e fica com dó de mim e até muda o tom da voz. Nos dois casos eu fico meio péssima. Nesse caso foi a enfermeira que pegou a pasta e soltou um: "Nossa, e você só ficou sabendo disso no morfológico?". Eu tentei segurar mas não deu.
Ela pediu para eu aguardar um pouco e saiu da sala. Depois ela voltou dizendo que, coincidentemente de segunda de manhã é quando a equipe de genética fetal está lá e eles poderiam me atender naquela hora. É claro que é porque eu estava chorando, comecei a me sentir ridícula e foi pior porque comecei a chorar mais. Ela me levou até uma sala e uma médica me atendeu. Mostrei os exames para a médica e ela me levou para conversar com outro médico. Eu deveria ter perguntado o nome desses dois médicos, mas estava tão constrangida e alterada que não pensei muito em nada.
Esse médico pegou meus exames, olhou o morfológico primeiro, depois olhou o ecocardiograma. O olho dele brilhou quando viu o nome da cardiologista que fez o eco, dr. Ana Paula. Ela também trabalha lá no CAISM. Ele perguntou do cariótipo, eu disse que vou fazer nesta quarta pela unimed mesmo. Ele perguntou se era com o dr. Cleber. Eu respondi que não, que é com o Dr. Walter Pinto. Ele recomendou bastante o dr. Walter também e disse que é melhor eu fazer o cariótipo com ele porque é mais rápido que fazer no CAISM. Com o resultado do cariótipo ele pediu para eu voltar lá, passar direto de novo. Tudo isso comigo chorando igual uma criança.
Depois a médica me levou de volta para a sala dela. Ela tentou me acalmar. Explicou sobre o acompanhamento que eles fazem com a gestante nesses casos, acompanhamento psicológico mesmo. Porque podem surgir situações do tipo a gestante nunca mais se sentir segura para engravidar novamente. Isso eu achei interessante, porque até então nenhum médico me sugeriu fazer acompanhamento psicológico. Eu já havia pensado nisso, mesmo antes de descobrir todas essas novidades. Sempre tive medo de depressão pós parto, pior será se eu tiver que lidar com uma depressão pós aborto.
Depois que sai de lá, ainda chorando, fui num lugar que vende pamonha e comi algo. Tinha feito o jejum para o exame de sangue e queria comer algo logo. Peguei uma pamonha e um suco de milho, fiquei lá sentada comendo e pensando em tudo isso. No meu bebê, na minha barriga enorme, em todos os médicos dizendo que ele vai morrer, em todas as coisas que eu comprei para ele, enfim... em tudo.
Quem viu aquilo deve ter pensado o que?
"Ela deve estar chorando porque não sabe quem é o pai do bebê dela."
"Ela deve estar chorando porque o pai não quer assumir a criança."
"Ela deve estar chorando porque é uma gravidez indesejada."
"Ela deve estar chorando porque está se sentindo gorda ou a barriga deve ter enchido de estrias."
"Ela queria pamonha salgada com linguiça e só tem doce com queijo."


sábado, 24 de janeiro de 2015

Aos meus amigos

Quando contei que estava grávida observei várias reações que eu não esperava nas pessoas. Na verdade eu me surpreendi bastante porque parece que de fato muitas pessoas acreditam que vou ser uma boa mãe. Se elas não acreditam elas me enganaram muito bem, porque para mim todos os sorrisos, abraços e palavras de felicitação pareceram sinceros.
Foi uma coisa tão bacana que eu fiquei até emocionada com a reação de todas as pessoas. Fiquei pensando que eu poderia ter contado logo de cara mesmo.
O mais legal foi que depois passei a me sentir super bem cuidada. Comecei a ganhar vários presentes. Eu não, né... o bebê. E não foi pouca coisa não, até o primeiro brinquedo surgiu logo de cara, é um leão de pelúcia que veio da África.


Mas as coisas tomaram um rumo diferente depois do ultrassom morfológico. Ninguém imaginava uma coisa assim e é uma coisa bem distante da realidade de todos que conheço e convivem comigo. Algumas pessoas perderam o bebê de aborto espontâneo nas primeiras semanas, mas isso é bem diferente. O meu está vivo e forte dentro da minha barriga, crescendo cada vez mais, só que todos os médicos insistem em dizer que ele pode ter morte súbita a qualquer momento ou que, se ele nascer, ele viverá só algumas horas.
Então, a frase que mais ouvi das pessoas após contar tudo para elas é a seguinte: "Eu não sei o que dizer.". Imagino que não mesmo. Ninguém passou por isso e, mesmo que a pessoa procure algo para falar é meio complicado saber como eu vou reagir ao que ela falar, então muita gente prefere não falar nada mesmo.
É claro que ouvi coisas super desagradáveis. Afe... pelo menos foi pouca coisa. 
Mas outra coisa que acontece também é que algumas pessoas se afastam. Eu até entendo, elas devem ficar desconcertadas, sem saber o que fazer mesmo. Talvez eu tivesse a mesma reação se fosse ao contrário. 
Fico muito feliz por todas as pessoas que se importam. Por todas as pessoas que perguntam se podem ajudar em algo, mas não há nada que possa ser feito, embora ouvir isso faça toda diferença. Como a cardiologista disse: "não há nada que pode ser feito, não está acontecendo isso por causa de algo que você fez. Quando você engravidou esse código genético já estava lá, para ele ser assim."
Eu sei que muita coisa ainda vai acontecer. Nesta noite até sonhei que eu tinha um bebê gordo e pesado que eu nem conseguia carregar no meu colo. Eu acho que meu subconsciente está mais otimista que eu embora eu ainda tenha esperanças de tê-lo comigo pelo menos até o final da gestação. Não acredito que ele vá ter morte súbita, embora fique o tempo todo pensando nisso. 
Enfim, vou focar nas coisas boas. Nos meus amigos tão carinhosos e atenciosos. Obrigada à todos.




Resultado do ecocardiograma

Como eu havia dito antes: é uma lista enorme de um monte de palavras que para mim não quer dizer muita coisa.
Só entendo o que a médica me disse: ele tem o lado direito do coração subdesenvolvido medindo metade do esquerdo. Ele tem as artérias invertidas e um buraco no meio coração. Ela precisa saber se tem a síndrome ou não porque se tiver ele não será operado. Mesmo que não tenha e seja operado é um quadro muito complexo de má formações e teriam que fazer vários remendos. 
Algumas pessoas me perguntaram se dá para fazer transplante do coração. Eu não sei. Nem veio isso na minha cabeça na hora do exame. Meio que fico em choque daí não dá para pensar muita coisa. Eu não sei se fazem transplantes em bebê, eu acho que fazem remendos até ele crescer e poder fazer um transplante. Sinceramente eu não sei.


Ir à escola

Em 1995, mais ou menos nessa época foi o primeiro dia de aula da quarta série. Como sempre, fui para o ponto de ônibus esperar o ônibus que me levaria para a escola.
Tinham muitas crianças naquele ponto e todas estava exibindo e comparando seus materiais novos da escola. Mochila, caderno, lápis de cor, canetinha, tudo.
Meu pais não tinham comprado nada neste ano para mim. Eu sentia como se estivesse indo para escola pelada. Estava de mãos vazias esperando o ônibus chegar e tentando fingir que nada estava acontecendo. As outras crianças viram que eu não tinha nada nas mãos mas eu as ignorei.
A orientação que eu havia recebido dos meus pais era pedir um caderno e um lápis na escola. Quando cheguei na escola fui correndo ver quem era minha professora e qual era a sala. Encontrei a professora o mais rápido que pude para explicar que eu não tinha material e pedir um caderno e um lápis. Minha intenção era resolver isso antes para não chamar a atenção das outras crianças para isso, mas quando encontrei a professora ela estava igual barata tonta tentando encontrar todas as crianças da sua turma. Ela pediu para esperar quando estivessem todos na sala. Meu plano tinha ido para o espaço. Ela iria pegar o caderno e entregar na frente de todas as outras crianças na sala e daí todos iriam fazer um monte de perguntas e eu iria me sentir super constrangida.
Então estavam todos na sala, a professora começou a falar. Eu fui ficando cada vez mais nervosa esperando ela se lembrar que eu não tinha cadernos. Ela se apresentou, explicou algumas coisas, falou, falou e falou. Nada do caderno e do lápis e eu fui entrando em pânico. Estava óbvio que ela tinha esquecido e eu teria que pedir de novo na frente da sala inteira.
De repente ela pediu para abrir o caderno e anotar algo. Pronto. Comecei a chorar. Já estava me sentindo um lixo, ela ter se esquecido de mim foi mais um motivo para eu me sentir um monte de merda. Ela ainda perguntou por que eu estava chorando, daí a relembrei que eu não tinha caderno e lápis. Ela saiu correndo da sala para pegar para mim.
Nunca consegui esquecer isso e me preparei a vida todo para que meu filho não passe por algo assim. Sempre rotulei isso como um baita de um descaso e incentivo para que eu  não estudasse. Mas sempre estudei demais porque só assim que se tem o mínimo de chances de mudar alguma coisa na nossa vida.
Agora eu não sei nem se meu filho vai poder ir à escola.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Férias

Estava tentando fingir que não é comigo mas é complicado. Sempre cruza algum pensamento na minha cabeça e com ele vem um conjunto de dúvidas. Um monte de "e se...", daí eu já corria para pesquisar no google.
Nem sempre é uma boa ideia pesquisar algo no google. Quando tentei pesquisar sobre a síndrome de Edwards ou Patau e apareceram várias imagens pesadas eu meu senti péssima e chorei mais ainda. Então parei de pesquisar sobre esses temas e fui tentar me informar sobre outras dúvidas que me incomodaram bastante.
A parte mais chata de tudo é que todos os médicos que fui até agora duvidam muito que a gestação chegará ao final. Eles falam de morte intra uterina. É tão difícil de ouvir isso que da primeira vez que ouvi não veio nada na minha cabeça de dúvida. Mas foi só chegar em casa que brotou um monte de "e se..." na minha cabeça.

"E se ele morrer dentro da minha barriga, como que tira?"
"E se ele morrer dentro da minha barriga, eu vou ter que enterrar? Como que enterra?"
"E se ele morrer dentro da minha barriga eu vou perceber?"
"Ele parou de mexer, será que ele morreu??"

Enfim, nunca uma coisa me atormentou tanto.
Agora eu entrei de férias novamente, só que o Felipe não. Então eu havia pensado em viajar uns dias. Talvez ajudasse um pouco a fingir que não é comigo. Mas, e se... E se eu estiver fora e o bebê morrer? Eu coloco ele numa caixinha e trago de volta para enterrar junto com o Felipe? Dá para imaginar quão terrível seria isso?
Enfim, vou ficar por aqui. Pegar a bicicleta e pedalar a cidade inteira.

Imagens do morfológico

Depois de assistir ao dvd pela milésima vez resolvi separar algumas imagens para colocar aqui.

A médica contou os dedos dos pés


Olha o pé de novo 


Planta do pé com 36mm


Ela também contou os dedos da mão mas só ela conseguiu ver todos os dedos lá. As imagens do pé ficaram melhores.

E o pipi apareceu novamente, deu para ver direitinho 


Essa daí foi no último minuto do ultrassom, quando ele resolveu mostrar o rosto. Ficou o tempo todos de costas e com as mãos na frente no rosto, no final ele revelou seu segredo e mostrou o lábio leporino e a fenda palatina. A médica colocou a setinha do mouse apontando para a abertura na boca dele.


Esse ultrassom foi bem demorado, a médica olhou e mediu todos os órgãos dele. Ele é muito importante e deve ser feito, embora muitas mulheres fiquem com muito medo de receber alguma notícia ruim nele. Se o bebê tiver algum tipo de problema eu acho que é melhor saber o quanto antes para que todos se preparem.

Laudo do moforlógico

 






Saber antes do nascimento

No final das contas, se não vou interromper a gestação, qual a vantagem de saber tudo isso agora? E se eu não soubesse de nada e só fosse descobrir quando o bebê nascer? De repente eu até curtiria mais a gestação. Não estaria me estressando, não ficaria pensando um monte de besteiras, não colocaria tanta minhoca na cabeça, não teria chorado tanto. Eu nem queria chorar grávida, queria só ter boas emoções, não queria me aborrecer com nada.
Fiquei pensando nisso até que durante a consulta com a cardiologista ela comentou algo que me fez repensar isso. A vantagem de saber de antemão se o bebê tem algum problema ou não é decidir qual vai ser o melhor lugar para que ele nasça. Ele não pode nascer em casa e não é todo hospital que ele pode nascer. Caso ele tenha que operar o coração ao nascer isso não pode ser feito na maternidade da cidade. Lá é bom porque tem UTI neonatal, mas esse tipo de cirurgia não é feito lá. Então a cardiologista me explicou que eu teria que ficar alguns dias internada ainda e o bebê seria transferido para outro local para ser operado. Isso seria bem triste, então é melhor que ele já nasça no local que tenha tudo o que ele irá precisar ao nascer e que eu possa ficar com ele. Também é importante que os médicos já estejam preparados sabendo de todos os problemas que ele possui.
Outra coisa que a cardiologista me explicou que me deixou mais tranquila é que dá para colocar uma placa no céu da boca dele para que eu possa amamentá-lo. Espero que dê mesmo. Mas ela disse que vai depender do tamanho da fenda palatina.
Então, se algum dia eu engravidar novamente vou fazer o pré natal todo diretinho novamente.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O melhor lugar do mundo para se estar é dentro da minha barriga

Ontem foram duas consultas, uma de rotina do pré natal com a médica obstetra e outra com a cardiologista para avaliar se o coração do bebê é "viável", como eles gostam de dizer.
Ainda não tinha ido na obstetra desde que fizemos o morfológico, mas já tinha conversado com ela pelo telefone, então ela já sabia de tudo. Quando fomos entrando na sala ela já foi comentando o fato do bebê ter má formações.
Esses médicos devem ver tanta desgraça que eles são incapazes de falar alguma coisa boa. Ela falou várias coisas que não sabíamos ainda, mas nada de bom e insistiu que as chances de ter morte intra uterina são altas, porque a própria natureza se encarrega impedir que a gestação evolua.
Mas é difícil acreditar nisso vendo o bebê crescendo firme e forte. Ainda mais depois de todos os médicos falarem que ele não está em sofrimento fetal.
A obstetra mediu minha barriga e disse que o bebê está muito grande, então ela pediu o exame de glicemia novamente. Quando a mãe tem glicemia alta o bebê pode crescer demais.
No fundo a preocupação dela não é se tenho glicemia alta ou não. Ela disse que se o bebê morrer com menos de 2kg dá para induzir o parto, acima disso ela não arrisca induzir e faz uma cesárea.
A tarde fui na cardiologista fazer o eco. No laudo a cardiologista colocou uma lista enorme de vários problemas no coração do bebê. Depois ela veio me explicar de uma forma que fosse mais fácil de eu entender: o bebê possui o ventrículo direito subdesenvolvido, tem metade do tamanho do esquerdo. Ele tem as artérias invertidas e um buraco no meio do coração.
Então ela disse que ela precisa da confirmação se tem a trissomia ou não. Se tiver o bebê não é operado, se não tiver pode ser feita a operação, mas seriam várias cirurgias arriscadas e o coração do bebê ficaria cheio de remendos. Ela explicou que mesmo que ele sobreviva às cirurgias ele nunca levaria uma vida normal porque ele sempre iria receber menos oxigênio e iria sentir falta de ar.
Enquanto o bebê está na minha barriga ele está super bem, não está em sofrimento, está crescendo e engordando. Mas a cardiologista não descartou a possibilidade de morte súbita dele. Eu não entendo isso, mas ela me explicou que é possível, porque se ele tiver alguma alteração genética as células dele podem simplesmente parar de se desenvolver e ele morre.
No final ela disse o seguinte: "A natureza é perfeita, mas você tem que entender que, de repente, a missão desse bebê é viver 6 meses na sua barriga".
Eu não vou interromper a gestação. Se o melhor lugar do mundo é minha barriga, deixa ele lá até quando ele quiser. Eu gosto de sentí-lo comigo.

Médico insensível

Então fomos no médico geneticista encaminhados pela obstetra. Conseguimos um encaixe rápido até, liguei na sexta e a consulta ficou para terça.
Chegando lá ele fez várias perguntas sobre medicação que tomamos, nossa ascendência, casos de má formação na família, nossa idade e sobre as vitaminas que tomei.
Os médicos recomendam tomar ácido fólico 3 meses antes de engravidar e também nas primeiras 12 semanas de gestação. Depois eles indicam algum polivitamínico para tomar até o final da gestação e também enquanto estiver amamentando.

Médico: "Você tomou ácido fólico?"
Bruna: "Sim, por 8 meses antes de engravidar e 3 meses depois."
Médico: "Qual a marca do ácido fólico que você tomou?"
Bruna: "Não lembro."
Médico: "Como você não lembra? Como você vem aqui se você não sabe qual a marca do ácido fólico que você tomou?"
Bruna: "Mas a marca do ácido fólico faz diferença?"
Médico: "Lógico que faz!"

Daí eu comecei a chorar igual a uma idiota. Óbvio. Médico idiota. A gente já está tentando entender o motivo de isso ter acontecido com a gente, então eu penso: "Aconteceu tudo isso porque eu não tomei o ácido fólico da marca certa!". Mas daí eu lembrei que quando foi para começar a tomar o ácido fólico eu perguntei a marca para o ginecologista, ele respondeu o seguinte: "Pode ser qualquer um que tenha 5mg. Todas as marcas são boas, o que importa é a quantidade.". Então, sempre que eu ia comprar o ácido fólico eu sempre olhava a quantidade.
Esse médico geneticista me viu chorando e acho que ele se tocou que tinha pegado pesado.

Médico: "Calma, você está na média. Isso pode acontecer com qualquer um. Eu preciso saber mesmo é quantas mgs tinha o ácido fólico que você tomou.
Bruna: "5mg."

Médico idiota, demente, retardado.

Continuamos conversando e daí ele perguntou se eu não tinha feito a translucência nucal que é o ultrassom que é feito com cerca de 12 semanas de gestação. Eu fiz e não deu alteração. Eles tiram uma medida da nuca do bebê que pode indicar se o bebê tem uma síndrome ou não. O meu tinha dado normal.

Bruna: "Eu tenho o resultado da translucência aqui, quer ver?"
Médico: "Sim."

Peguei a pasta e entreguei para ele. Era a pasta do laboratório que eu fiz o exame. Ele pegou a pasta do laboratório e já foi dando esporro de novo:

Médico: "Que laboratório que é esse? Por que você foi fazer ultrassom lá? Isso não é laboratório!"

Sério, tem médico que se acha um ser superior mas não passam de idiotas. Ele poderia ter o mínimo de delicadeza. Eu não sabia que esse laboratório era ruim.

Pasta do exame da translucência nucal


Pasta do exame do morfológico




terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Coração do bebê

Ontem reuni toda a coragem que possuo e fui ao hospital pedir para ouvir o coração do bebê. O Felipe também estava ficando preocupado com tudo e achamos melhor ir logo.
Chegando lá conversamos com a médica e explicamos o nosso caso. Alguns médicos são super sem noção, ela pediu os exames que eu havia levado, entreguei para ela o ultrassom morfológico e conforme ela ia lendo ela ia fazendo cara de espanto e dizendo: "Nossa... nossa... nossa... e a hipoplasia dele é grande..."
Enfim, totalmente desnecessário esse tipo de comentário.
Depois fomos escutar o coração do bebê. Ela colocou o aparelho na minha barriga e ficou esperando até escutar o som do coração. Depois de um tempinho escutamos mas não era tão rápido quanto costuma ser o coração do bebê, daí ela disse: "Placenta.". Tentou colocar o aparelho em outro local na barriga, esperou um pouco e foi a mesma coisa: "Placenta.".
Imagina só como eu fiquei nessa hora. Ela tentou 4 vezes em quatro locais diferentes na barriga, até que ouvimos aquele som inconfundível e acelerado do coração do bebê. Ufa.
"O bebê está vivo."

domingo, 18 de janeiro de 2015

Inacreditável

"Ele possui lábio leporino e fenda palatina, além disso ele tem um problema no coração. Quando apresenta essas má formações é provável que tenha uma síndrome chamada síndrome de Edwards que é incompatível com a vida."

"Você está louca??? Como você se atreve falar assim do meu filho? Você não viu ele lindo e perfeito?  Forte, grande e se mexendo todo? Que tipo de profissional é você? Você está bêbada, drogada ou algo do tipo? Está com inveja da minha barriga, do meu bebê, do meu marido, da minha família? Olha só minha barriga, grande, linda e perfeita!  É porque tem um bebê grande, lindo e perfeito aqui dentro! E eu sinto ele mexendo o tempo todo porque ele é ficando cada vez mais forte! Olha só os meus peitos, também estão ficando maiores! Meus mamilos também estão maiores e mais escuros, é porque meu corpo está se preparando para amamentar o meu filho lindo que vai nascer daqui alguns meses! Como você se atreve me dizer que ele vai morrer? Você é burra? Não percebe que tudo está indo bem?"

Preocupações idiotas

Ah é, eu estava preocupada com estrias, varizes, celulites. Preocupações idiotas. Em nenhum momento me preocupei com a possibilidade de o bebê ter algum tipo de problema.
Por que ele teria se eu tomei o ácido fólico 8 meses antes de engravidar, 3 meses depois, a partir do 3 mês eu tomei o polivitamínico, eu fui numa nutricionista, antes de engravidar eu tomei todas as vacinas e garanti que todos os meus exames de sangue estavam ok? Além do mais, comecei a praticar atividades físicas antes para garantir o mínimo de condicionamento físico para levar uma gravidez.
Não é esse o segredo para uma gravidez perfeita? Na verdade estava sendo perfeita. Eu não tive nenhum problema, sempre me senti ótima. Tive um pouco de sono, um pouco de enjoo, mas nada comparado ao que a gente vê por ai. Continuei correndo, nadando, pedalando, fazendo tudo.
Então quer dizer que não valeu a pena ter feito nada disso? Eu cheguei a pensar assim. E se eu não tivesse feito nada disso?? Então não tem receita de bolo para ter um filho perfeito. Se eu não tivesse feito nada disso agora eu estaria muito pior pensando que foi porque eu não tomei o ácido fólico ou porque a glicemia estava alta. Eu sei que eu fiz tudo o que eu podia, mas tem coisa que foge do nosso controle e explicação. É injusto, super injusto. Penso em todos os casos de pessoas que simplesmente não queriam ter filhos ou não se cuidaram nem um pouco e tiveram filhos lindos e perfeitos. Super injusto.
Me preparei a vida toda para isso. Quis fazer antes todas as coisas que julguei importante. E foi assim. Eram muitas coisas, principalmente quando não se nasce em berço de ouro. Por isso demorou. Não teria tido um filho antes de ter certeza que o momento certo havia chegado. É claro que eu poderia ter esperado mais tempo e ter conquistado mais coisas, afinal ainda não temos nossa casa própria, mas esperar demais também não é bom. Já vou fazer 30 anos e a gente já tem condições para criar bem uma criança.
Mas quem explica o que gera uma trissomia? Pelo visto é isso mesmo, uma trissomia. O que mais poderia ter causado todas essas má formações no bebê? E é a trissomia incompatível com a vida. Nunca eu iria imaginar ouvir algo assim.

"Ele possui lábio leporino e fenda palatina, além disso ele tem um problema no coração. Quando apresenta essas má formações é provável que tenha uma síndrome chamada síndrome de Edwards que é incompatível com a vida."

Como assim, incompatível com a vida?? Daí ela me explicou o que era óbvio. Mas como a gestação chegou até aqui se ele está condenado? Não faz sentido, o meu bebê é forte, eu sinto ele mexendo!
Então, de repente ele deixou de ser Dário para ser o bebê. Dário era o cara que ia andar de bicicleta comigo. A gente ia subir em árvores e pular amarelinha. Íamos tomar sorvete, ler livros, assistir filmes. Eu iria ajudá-lo a fazer lição de casa, ouvir suas histórias e vê-lo crescer.
Então, se acontecer algo e nós perdermos esse bebê é melhor mudar o nome dele mesmo. Eu pensei em Sílas que era o nome que eu queria de início.
Ele não tem mexido e eu sempre penso que ele se foi. Comentei com o Felipe e ele perguntou se eu não queria ir no hospital. Não quero. Não mesmo. Em uma semana a gente recebe uma notícia tão dura que leva tempo até assimilar. Muito tempo. Se eu estou bem, não preciso de mais notícias duras agora, uma coisa de cada vez, por favor. Eu posso ficar louca.
E se eu tiver perdido eu vou ter que enterrá-lo? Pois é. E se ele estiver morto na minha barriga, como ele vai sair? Tenho que perguntar isso para minha médica, mas não preciso ter que decidir isso agora. Ainda estou assimilando o fato de que ele possui má formações, ok? Uma coisa de cada vez. Além do mais, pode não ser nada.
Não desejo isso para ninguém. Tenho medo de não suportar tudo. De ficar louca, de entrar em depressão, de nunca mais ter coragem de engravidar. Então eu preciso do meu tempo para ir absorvendo as coisas.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Tentando assimilar tudo

Ainda é difícil de acreditar que meu bebê tem algum tipo de problema.
Fomos em uma clínica de genética médica e o médico que nos atendeu disse todas as probabilidades de um bebê desenvolver algum tipo de problema. Quando ele olhou o resultado do ultrassom morfológico ele disse que pelas características pode ser síndrome de Edwards ou Patau. Ele fez várias perguntas sobre toda a nossa família e alguns hábitos nossos. Perguntou de remédios que tomamos, das vitaminas que tomei e se há casos de má formações na família.
No final das contas ele pediu para fazermos o cariótipo do líquido amniótico. Ainda não fizemos.
Ele também nos encaminhou para um cardiologista para avaliar se o coração do bebê é "viável".
Caso o bebê não seja "viável" eles vão sugerir que a gestação seja interrompida. Eu não sei se teria coragem de fazer isso. Fiquei pensando em todos os riscos que isso pode trazer. Achei até alguns lugares que associam interrupção de aborto à maior probabilidade de desenvolver câncer de mama. Também dizem que a mulher pode ter dificuldade para engravidar após uma interrupção de gravidez. Além do mais, não sei como eu reagiria após uma aborto. Dizem que algumas mulheres experimentam muitas emoções negativas após um aborto. Acho melhor não arriscar.
A médica disse que gestações assim não evoluem bem. Disse que poucas chegam até o final e o bebê nasce vivo. Eu acho que isso foi a segunda pior coisa que ouvi. A primeira foi a notícia de que o bebê possui problemas, a segunda foi isso, de que ele pode morrer a qualquer momento dentro da minha barriga.
Fico o tempo toda preocupada com ele. Achando que ele parou de mexer. Que estou diferente. Tento não pensar nisso, mas é difícil.
Será que vamos conseguir continuar suportando tudo isso? Fico de olho no Felipe. E ele em mim. Hoje estávamos conversando sobre talvez perdermos o bebê, o que teríamos que fazer. Então comentei que ele terá uma certidão de nascimento e outra de óbito. Ele disse que prefere trocar o nome dele. O nome era para ser Dário, daí ele disse que a gente guarda esse nome para um próximo e coloca nesse outro nome.

Bruna: "Mas você não vai ficar com medo de tentar de novo?"
Felipe: "Não, as chances disso acontecer de novo são mínimas."
Bruna: "E quando você prefere tentar de novo?"
Felipe: "O quanto antes, a gente aproveita que já está no embalo."

Eu acho que ainda vou precisar de um tempo. Tem sido muita coisa para assimilar. Tem que ser uma coisa de cada vez.
Hoje fui nadar para aliviar um pouco. Vou continuar mantendo o ritmo de atividade física para focar em outras coisas e não ficar pensando muito nisso tudo. Se eu penso eu começo a ficar triste e isso pode não ser bom para o bebê.



domingo, 11 de janeiro de 2015

Tristeza

Estava me sentindo a super poderosa. Mesmo grávida consigo levar uma vida super ativa. Corro, nado, pedalo, planto bananeira. Trabalho, cozinho, planto árvores. Estava achando que estava acabando com aquelas mulheres que fazem a gestação de muleta para não fazer tudo que sempre fizeram.
Agora estou me sentindo a pior mãe do mundo. Estou totalmente arrasada e triste. Não consigo parar de chorar. Nunca mais vou criticar ninguém porque não existe receita de bolo para o sucesso de uma gestação. Você segue a risca tudo o que os médicos recomendam, você está bem, disposta, cheia de vitalidade e energia. Feliz vendo sua barriga crescer e sentindo seu bebê cada vez mais forte. De repente tudo desaba.
Fomos fazer ultrassom no dia 09/01/2015. Esse é o morfológico feito de 20 a 24 semanas. Eu estava com 21 semanas. Então a médica nos disse que o bebê possui lábio leporino e fenda palatina. Na hora eu pensei: tudo bem, isso se corrige com cirurgias e os resultados são surpreendentes.
Mas daí ela disse que ele também tem má formação no coração. Disse que ele tem hipoplasia do ventrículo direito. Daí eu fiquei péssima. Ainda perguntei se isso não poderia ser corrigido até o final da gestação. Ela disse que não. E ela disse algo pior, que quando o bebê tem esses dois problemas é muito provável que ele tenha uma síndrome chamada síndrome de Edwards, que é incompatível com a vida.
"Como assim, incompatível com a vida??"
"Espera, acho que entendi errado, repete de novo, por favor?"

Ela só disse que sabia que é difícil, mas mesmo que o bebê não tenha a síndrome ele teria que fazer várias cirurgias ao nascer.
Ela perguntou quando seria o meu retorno do pré Natal e sugeriu que eu voltasse antes da data marcada. Fomos direto para o consultório da Doutora que está fazendo o meu pré Natal mas ela está de férias. Liguei no celular dela e ela atendeu. Disse  para eu marcar uma consulta com um médico geneticista para avaliar se o bebê tem a síndrome mesmo. Mas ela disse que é pouco provável que ele não tenha e que todas as gestações que ela acompanhou a gestação não evoluiu bem e foi interrompida. Algumas gestações que foram até o final o bebê nasceu e morreu. Ela comentou algo sobre interromper a gestação caso confirme que é a síndrome. Depois ela disse que se não for a síndrome vai ser um transtorno mesmo assim porque o bebê vai ter que fazer várias cirurgias.

Estou em choque ainda. Como um bebê tão querido, planejado e cuidado pode ter defeito??? Tanta gente que usa droga, fuma, bebe, não se prepara, não quer mas engravida e tem filhos perfeitos!!!!! Por que com o meu bebê isso????

Ainda estou meio desnorteada. Estou tentando colocar a cabeça no lugar e assimilar tudo.