segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A vida é uma caixinha de surpresas

No sábado o Felipe recebeu uma mensagem da mãe dele dizendo que o pai estava internado com suspeita de dengue hemorrágica. No domingo de manhã estávamos caminhando quando ela ligou dizendo que haviam confirmado que, na verdade, ele tinha leucemia em estágio avançado e também estava com um coágulo no cérebro. Estávamos nos preparando para voltar quando ela me ligou novamente pedindo para eu falar para o Felipe que o pai havia falecido.
Ela me ligou porque o celular dele estava sem sinal. Desliguei o telefone e pensei em qual seria a melhor forma de dizer isso. Lembrei da médica dizendo que não existe melhor forma de dar uma notícia triste porque a gente nunca quer ouvir algo assim.
Como ele estava do meu lado quando ela ligou imaginei que ele pudesse ter ouvido o que ela havia dito.
Bruna: "Você escutou?"
Felipe: "Sim."
Quando chegamos em casa repeti a pergunta e ele disse que não tinha escutado mas desconfiava o que fosse.
Se a gente tivesse a mínima noção que isso fosse acontecer não teríamos ido caminhar longe. Estávamos fazendo uma trilha no meio do mato. Estávamos quase terminando o trajeto quando ela ligou, saímos de lá e fomos tomar um banho porque havíamos caminhado quase 14km de trilha no sol. Fiz alguma coisa em 5 minutos para comermos porque após caminhar tudo isso se não comêssemos algo acho que poderíamos até desmaiar de fome. Depois fomos encontrar a família dele.
Todos estavam em choque. Todos pegos de surpresa.
Hoje foi o enterro. É uma pena que aconteceu isso porque ele estava super empolgado com o neto. Falava o tempo todo dele e até colocava a mão na minha barriga.
Fiquei preocupada com o Felipe. Não sei se dei o suporte que ele precisava nessa hora. Eu sei que ele nunca demonstra nada, tem que espremer para tirar alguma coisa então nunca sei exatamente se ele de fato é toda essa fortaleza que deixa transparecer. Como estará por dentro? E se perdermos o bebê também, não vai ser muita coisa seguida para ele?
Me preocupo demais com ele e fiquei conversando bastante sobre isso. Insisti que se ele quiser chorar ele deve chorar. Não precisa ter vergonha de nada. Se quiser viajar ou passar um tempo com a mãe dele eu vou entender também. Ele tem que resolver tudo agora para aliviar todo o peso que tem carregado, mas só ele vai saber exatamente o que precisa agora. Insisti que ele pode conversar comigo e me pedir qualquer coisa. Ele disse que está bem e quis ir dormir mais cedo hoje. Deve estar cansado mesmo.
Infelizmente muitas coisas fogem do nosso controle mesmo e a gente tem que ser forte para superar tudo. Tem que seguir adiante e não imaginar que uma hora vamos começar a viver um conto de fadas porque isso não existe.

Acupuntura

Antes de engravidar eu estava fazendo acupuntura com uma médica que sempre falava muito de uma filha dela que tem uma síndrome. Ela nunca entrou em detalhes da síndrome da filha, mas sempre fazia comentários do tipo: "Não gosto de deixá-la sozinha" ou "Ela inventou que quer fazer aulas de pintura".
Desde que soubemos dos problemas do bebê eu voltei a pensar nessa médica e pensei que seria uma boa ideia voltar com a acupuntura também. 
Marquei uma consulta com ela e fui lá no sábado de manhã. A última vez que havia estado lá foi em março do ano passado. Quando ela viu o tamanho da minha barriga ela ficou impressionada e perguntou se eu estava feliz. 
Eu não tinha pensado nisso ainda então não foi uma resposta que veio de imediato. Ela estranhou e eu comecei a explicar tudo o que estava acontecendo. 
Mostrei para ela os exames do bebê e ela olhou todos, mesmo que não fossem da área dela. Disse que tinha pensado em retomar com a acupuntura mas ela disse que isso não iria resolver nada dos problemas dele. 
Na verdade, a minha intenção era mais no sentido de me acalmar e me preparar para um parto que dizem que será seguido da morte do bebê. Se preparar para um parto em que se sabe que o bebê não tem esses problemas já é difícil.
Ela disse que o que eu vou precisar mesmo é de terapia, eu e o Felipe. 
Foi uma consulta de mais de uma hora. Ela falou muitas coisas e até ligou para uma outra médica amiga dela. Depois ela contou como foi quando ela teve a filha dela.
Ela não sabia de nada até a menina nascer.
Quando ela olhou para a filha ela viu uma mancha no rosto dela. Depois foi confirmado que ela tinha a síndrome de Sturge-Weber.
A médica disse muito para eu me preparar porque as pessoas vão ser muito cruéis. Elas vão ser cruéis sem perceber. Vão fazer perguntas que vão me machucar. Elas vão me ver grávida e depois vão me ver sem a barriga e sem o bebê e vão perguntar o que houve com ele e vai doer ter que falar sobre isso, caso isso de fato aconteça.
Ela disse algo que me fez pensar. O problema no coração do bebê é o mais sério, por isso vão operar o coração primeiro em vez do lábio. Mas, quando ele nascer vai ser muito chocante olhar para o rostinho dele. A gente sempre imagina que vai ter um bebê lindo e perfeito mas eu vou achá-lo lindo do jeito que for. No caso dela ela deve ter relembrado da sensação de olhar para o rosto da filha. A gente sempre quer fazer o melhor para os nossos filhos e ela insistiu que eu vou fazer o melhor para ele, que ela não tinha dúvidas disso.
Ela foi muito bacana. Falou várias coisas de incentivo e força. Me deu um abraço e pediu cópias dos meus exames para encaminhar para médicos conhecidos dela.
Enquanto comentava da filha ela também contou que após o nascimento dela o marido a abandonou. Fiquei com isso na cabeça. É claro que ela falou várias coisas boas mas essa parte foi a que ficou martelando na minha cabeça. Fiquei pensando em como seria se fosse comigo e o Felipe me deixasse. Fiquei péssima pensando nisso e achei melhor ir conversar com ele. Sempre é ótimo conversar com ele e tirar essas minhocas da cabeça logo.
No final das contas eu nem deixei as cópias dos exames lá. Fiquei meio jururu com essas minhocas na cabeça e quis voltar para casa logo. Antes de resolver conversar com o Felipe eu estava deitada martelando isso tudo quando meu celular tocou. Era a médica pedindo as cópias. É a primeira vez que um médico me liga preocupado comigo. Fiquei impressionada com ela. Mandei tudo por email. Ela voltou a me ligar hoje falando que já havia conversado com as amigas dela e pedindo para eu consultar com uma cardiologista. As vezes o cuidado vem de quem a gente menos espera.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Fim de férias

No final das contas poderia ter viajado tranqüila. Toda essa história de morte intra uterina não passou de mais terrorismo dos médicos. O que está acontecendo é justamente o oposto, eu não acredito que meu útero subiu tanto!
Eu estava sentindo ele mexendo bem debaixo da minha costela. Fiquei impressionada mesmo porque no começo de janeiro ainda estava debaixo do meu umbigo. Deve estar enorme, com certeza. Além de forte. O Felipe brincou dizendo que um dia ele vai mirar um chute bem no meu umbigo e daí ele vai ficar estufado para fora.
Ele não parou de fazer comentários do tipo. Imagino que ter sentido o bebê mexendo deve ter mexido com ele, porque ele sempre faz algum comentário assim.
Não ter viajado nas férias não significa que eu não aproveitei o tempo livre. Tinha uma lista de coisas para fazer. Fiz questão de fazer uma lista mesmo, com muito mais coisas que conseguiria fazer no tempo que tirei.
Na lista tinha até arrumar minha pasta de papel de cartas de quando eu tinha 7 anos. O objetivo era não ter motivo para ficar parada.
Eu não posso ficar parada. De forma alguma. Sou super preocupada com depressão porque tem vários casos na minha família. Eu acho que deve haver uma propensão genética para isso, então eu nunca vou dar espaço para que isso aconteça comigo. Espero continuar resistindo, da mesma forma que sou preocupada com obesidade. Existem vários casos de obesidade na minha família, então eu sempre dobro a atenção no meu peso.
Entrei em choque quando vi que estou com 86kg. Isso é muito mais do que imaginei para mim. Tudo bem que eu sou alta e não estou me sentindo gorda, mas ainda assim o número impressiona.
Vou continuar curtindo meu filhotinho enorme e forte. É um barato.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Preparação para o parto

Bruna: "Quanto de espaço tem a goPro?"
Felipe: "64 GB"
Bruna: "São quantas horas de gravação?"
Felipe: "Umas 10 horas, mas a bateria deve durar só umas 4 horas gravando."
Bruna: "Então vou comprar uma bateria reserva."
Felipe: "Por que?"
Bruna: "Para o parto."
Felipe: "Você acha que vou ficar todo esse tempo lá? Você me liga na hora que ele estiver saindo e eu vou para lá."

Ele estava brincando. Duvido muito que ele teria coragem de fazer isso também. Eu não tenho parentes aqui em Campinas e ninguém vai vir para cá para ficar comigo. Só tenho ele e eu tenho certeza que ele não faria isso, me deixar lá sozinha no hospital.
A cardiologista disse que o ideal é ter parto normal, porque teremos a garantia de que ele não vai nascer antes da hora. Se ele nascer pré maturo terá menos chances de sobreviver.
Mas vai ser um auê. Porque será necessário que ele nasça em algum lugar que tenha UTI neonatal e que faça cirurgia cardíaca. A maternidade de Campinas tem UTI mas não faz cirurgia cardíaca.
Mesmo que o lugar tenha UTI neonatal pode acontecer de chegarmos lá e não ter vaga. Não tem como prever nada. Se acontecer isso seremos transferidos para algum lugar que tenha vaga.
Eu estou pensando seriamente em tê-lo no hospital da unicamp. Lá tem os melhores médicos e também tem o sobrapar que é referência em cirurgias de crânio e face. Ele terá que fazer várias cirurgias por conta do lábio leporino e fenda palatina. O ideal é fazer o quanto antes a primeira para que ele não tenha dificuldades para se alimentar e respirar.
Mas no hospital da unicamp também podemos ter o mesmo problema de chegar lá e não ter vaga na UTI neonatal. Caso não tenha também irão nos transferir para algum lugar que tenha e isso pode ser em qualquer cidade vizinha.
Pela unimed temos 3 opções de lugares com UTI neonatal que fazem cirurgias cardíacas na cidade. No dia 27/02 vou voltar na cardiologista e perguntar para ela o que ela acha melhor, se pela unimed ou pelo SUS. Tenho uma lista de dúvidas para perguntar à ela. De todos os médicos ela é a que mais gostei, mas não é ela que opera.
Algumas pessoas acham que esses problemas no coração dele serão corrigidos até o final da gestação porque acham que o coração dele ainda está em desenvolvimento. Os médicos disseram que não, mas eu não comento nada com elas. Seria ótimo se, no final das contas, desse tudo certo mesmo.
Durante o parto eu quero que o Felipe fique junto porque não sabemos quanto tempo ele vai sobreviver após o parto. E se for menos de uma hora e não der tempo de o Felipe vê-lo vivo? Ele tem que ficar lá, com certeza.
Durante o parto ele vai levar a goPro na faixa para cabeça. Vai filmar tudo.




Tomara que dê tudo certo durante o parto. Tenho me preparado muito para isso, dizem que existem vários exercícios que ajudam a preparar o corpo e eu tenho feito muita coisa.
Dizem que a cabeça conta muito na hora. Eu nunca me preocupei com o parto, não é uma coisa que me assusta. Acho que confio demais no meu corpo e o parto normal é uma coisa que foi feita para funcionar. Tomara que dê tudo certo, que eu possa vê-lo nascer e ouví-lo chorar.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O quarto

Felipe: "Nós temos que decidir se nós vamos comprar o berço."

Nós não vamos comprar o berço, não vamos montar o quarto, não vamos fazer nada e ponto final. A única coisa que vou fazer e montar a bolsa da maternidade.
E não é porque eu acho que ele não vai sobreviver. Eu tenho muita esperança sim. É o que eu mais quero.
Mas, quando ele nascer vão se passar alguns dias até ele ser operado. Ele não vai sair da minha barriga e ir para a sala de cirurgia, mas ele vai ficar na UTI. Ou seja, ele não vai vir para casa. Depois ele vai ser operado e ele não vai sair da mesa de cirurgia e depois vir para casa. Vai um bom tempo até ele receber alta.
Muitas coisas ainda vão acontecer e são muitas coisas que podem dar errado. Eu não quero que dê errado, de jeito nenhum. Não estou gerando um filho para vê-lo morrer. Mas, e se tudo der errado? E se ele morrer no parto? Ou morrer na cirurgia? Ou logo após a cirurgia? Eu vou voltar para casa, ficar 4 meses de licença maternidade sem um bebê, com os peitos cheios de leite e um quarto montado.
Eu acho que isso é um prato cheio para se entrar em depressão. Não adianta alguém me falar que não é porque eu me conheço melhor que ninguém.
Se tudo der certo com certeza vai ser ótimo, enquanto ele não receber alta do hospital talvez a gente consiga até comprar algumas coisas para o quarto. Se não der também não tem problema. Muitas crianças nascem sem ter até o que vestir e não morrem por isso.
Mas, então não vou curtir minha gestação montando o enxoval dele? Nesse ponto não. Mas isso eu também posso compensar de outras formas. Vou comprar lindos vestidos de grávida que valorizam bem a barriga e curtir ao máximo ele aqui comigo.
Mas será que vou conseguir fazer alguma coisa depois que ele nascer? As pessoas adoram falar isso, para eu aproveitar para fazer tudo antes porque depois que o filho nasce a vida se torna uma desgraça e a gente se atola no fundo de um poço de obrigações sem fim.  Mas, neste caso a mãe sou eu, não elas. Elas não me conhecem e não sabem do que sou capaz. Se elas estiverem certas, então eu pago alguém para montar o quarto e ponto final.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fome

Tenho sentido uma fome enorme de madrugada. O ruim é que eu levanto para comer algo mas fico com preguiça de escovar os dentes.
Hoje resolvi caprichar numa tigela de granola com leite antes de dormir. Estava aqui comendo quando senti uma coisa me incomodando. Fiquei surpresa, tinha colostro para todo lado. É a primeira vez que vejo saindo. Sempre sai a noite e quando eu acordo já parou de sair e ele está seco.
Fiquei olhando ele sair. Antes de secar ele é transparente, depois fica branco. Não tem cheiro. Não achei uma boa idéia sentir o gosto.
Será que tenho sentido mais fome por que além de gerar o bebê também estou produzindo tanto colostro? Vou perguntar para a médica na próxima consulta.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Pulando carnaval!

Nesta noite o Felipe me acordou quando levantou para ir ao banheiro. Quando ele voltou eu resolvi aproveitar para ir ao banheiro também, mas acho que acabei acordando nosso filhotinho.
O guri começou a pular carnaval dentro da minha barriga, é a única explicação. Parece que estava muito divertido porque ele não parou rápido não.
Aproveitei que o Felipe estava acordado e coloquei a mão dele na minha barriga. Pela primeira vez ele sentiu! Que legal! Não via a hora de isso acontecer!
Nós dois não gostamos nem um pouco de carnaval. Não bebemos, não dançamos e não gostamos de tumulto. Também dormimos muito cedo.  Mas o Dário parece que curte uma agitação de madrugada. Acho que estava brincando com seu companheiro inseparável, o cordão umbilical.
De manhã o Felipe disse que se eu pudesse deitar de barriga para baixo quando ele começa a mexer ele iria me empurrar para cima a cada chute. Daí o Felipe deitou na cama de barriga para baixo e me mostrou como seria. Acho que ninguém consegue imaginar essa cena. Eu não consegui parar de rir mesmo depois que ele parou de fazer isso.
Os médicos colocaram tanta porcaria na cabeça dele que eu queria muito que ele sentisse que o Dário está aqui ainda e precisa de carinho. O Felipe precisa entender o meu lado também e me ajudar a enfrentar qualquer pessoa que venha nos falar para tirá-lo. Não é assim, ele está aqui e nós dois sentimos ele pulando carnaval de madrugada.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Resultado impresso do cariótipo

Ontem eu tinha dentista no meio da manhã, acordei cedinho e fui para a academia antes. Lá na academia a dentista me ligou mudando o horário para 13:30. Saí da academia e aproveitei para ir ao supermercado. 
Às 13:30 fui na dentista. Nunca tinha ido nessa dentista, só precisava fazer uma limpeza. Ela foi indicada por uma amiga minha. 
Ela estava fazendo a limpeza quando meu celular começou a tocar, ela perguntou se eu queria atender mas eu não quis. O celular tocou 3 vezes seguidas daí ela achou melhor eu atender. Era da clínica de genética, queriam saber se dava para eu ir num encaixe ontem mesmo às 16:30. Eu disse que sim. Expliquei resumidamente para a dentista tudo o que estava acontecendo e disse à ela que teria que ligar para o Felipe também, para ele poder ir lá. 
Liguei para o Felipe mas ele também estava no dentista. Quando ele caiu de bicicleta em dezembro de 2013 ele quebrou 5 dentes. O dentista tentou remendar todos mas ele ficou o ano passado inteiro tendo problemas com um dente. No final das contas o dentista achou melhor extrair esse dente. Ele fez a extração alguns dias antes de saber que eu estava grávida, depois até brincamos que a fada do dente tinha levado um dente dele e deixado um bebê. Ele pensou um pouco e depois disse: "É um preço caro a se pagar por um filho...". Na verdade ele ficou meio chateado de perder um dente. Deve dar um vazio mesmo. Na boca.
Teve que esperar todo esse tempo para fazer o implante. O implante não foi feito ontem, foi só o retorno para avaliar e começar. 
Ele me enviou uma mensagem dizendo que estava no dentista e que não ia poder ir no geneticista. Eu achei melhor ir sem ele mesmo, porque foi um encaixe e talvez não conseguíssemos outro para antes do carnaval. 
Cheguei às 16 horas na clínica e não tinha ninguém lá. O médico já me atendeu logo que cheguei.

Bruna: "Eu fiquei surpresa..."
Médico: "Que deu normal?"
Bruna: "É."
Médico: "Às vezes acontece, você tem uma possibilidade mas deu normal. Agora sim, vai ter que operar... a boca e o coração, né?"

Ah, é, né? Não era tudo certeza? Agora era uma possibilidade? Filho da puta. Da primeira vez que ele olhou ultrassom ele já foi falando que era Edwards ou Patau, nada mais. 
Tinha que ter feito esse terrorismo todo comigo? Não tem como ter certeza de nada de um bebê que ninguém viu ainda, só pelo ultrassom. 
A cardiologista tinha me dito que se não tivesse síndrome eu teria que voltar nela porque ele pode ser operado.

Bruna: "Agora tem que voltar na cardiologista então?"
Médico: "Mas, se não me engano, a operação do ventrículo direito é uma das mais difíceis de serem feitas..."
Bruna: "Eu vou conversar com a cardiologista que ela que tem que dizer isso, né..."
Médico: "Hora que ele nascer ele vai nascer, operar e morrer. Ela não te falou isso?"

Afe... Não, ela não falou isso. Porque ela sabe conversar com as pessoas e ela sabe que não dá para prever tudo o que vai acontecer.
Já tinha saído o resultado do cariótipo, já sabemos que ele não tem síndrome, por que ele ficou jogando uns verdes para ver se eu interrompo?

Médico: "Isso é com vocês, porque vai dar trabalho, qualquer caso você pode interromper."

Isso eu não sabia. Pensei que só pudesse interromper se tivesse a síndrome que todos dizem que é incompatível com a vida. Ele disse que se o coração do bebê não for viável também pode, mas a cardiologista não tinha dito que o coração dele não é viável, ele que estava dizendo. Ele contou de um caso que o bebê não tinha braços nem pernas, nem o toco, perguntou o que eu teria feito, se eu teria interrompido ou não.
Ele tinha acabado de falar que era só uma possibilidade de ele ter uma síndrome, embora antes tivesse dito dando certeza, agora vem falando com toda convicção do mundo que o bebê vai nascer e morrer. Será que ele acha que eu vou acreditar nele agora?
Expliquei para ele que não vou interromper.
Perguntei para ele se existe algum outro exame que posso fazer para saber exatamente o que causou esses problemas com o bebê. Ele disse que certamente não é nada externo. Não foi algo que eu usei, tomei ou fiz. Todos os cromossomos do bebê são perfeitos porque um é par do outro. Não está faltando algum ou tem cromossomo a mais. Ele disse que poderia ser algum problema de metabolização do ácido fólico ou alguma alteração do DNA. Ele explicou que alteração do DNA pode ser inerente da criança ou herdada. Não entendi muito bem a diferença, mas ele disse que dá para saber se foi herdada ou não através de um exame chamado exoma. Ele pode fazer esse exame por apenas 10.000 reais.
Se for uma alteração do DNA herdada há maior probabilidade de acontecer de novo em uma próxima gestação. Ainda assim tudo continuaria sendo possibilidades.  Desencanei, não vou mais ficar pensando nisso. Vou deixar as coisas acontecerem, continuar me cuidando e fazendo o pré natal.

Médico: "Uma coisa é o que a gente vê no ultrassom, outra coisa é o que a gente vê quando nasce. "

E, uma coisa é o que os médicos falam, outra coisa é o que acontece. Eu gravei a consulta para o Felipe ouvir. Ele ficou tirando sarro de mim porque eu perguntei para o médico se aconteceu isso porque eu fiquei  com o celular perto da barriga.
É muita coisa que pode dar errado na geração de um filho. Eu sempre cuidei muito de tudo, principalmente da alimentação. Sempre fui super enjoada com comida. Nunca gostei de coisas fritas, gordurosas, muito doce e refrigerante. Sempre fui apaixonada por frutas e sucos naturais. Gosto muito de legumes.
Como passei muita fome na época da faculdade eu entro em pânico quando começo a sentir fome hoje. Sempre que não consigo comer no horário e minha barriga ameaça roncar eu já entro em desespero e meu humor vai para o espaço. Por isso nunca fiquei muito tempo sem comer algo, sempre tenho uma fruta para beliscar. Todos os dias vou para o trabalho com uma sacola de coisas para comer, quase sempre frutas.
Não me sacrifiquei tanto para me formar para depois ficar passando fome. Pelo menos comer bem eu mereço. Foram vários sacrifícios para me preparar para ter o meu filho e garantir que ele não passaria por nada disso tudo.
Eu vou continuar fazendo tudo por ele porque ele merece. Não se desiste de um filho, mesmo que ele tenha lábio leporino e problemas no coração ou qualquer outra coisa. Filho é um compromisso para o resto da vida.

Nesta página ele diz que estamos gerando um menino cromossomicamente normal.



Nesta outra tem a imagem dos pares de cromossomos



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sobre ontem

Eu fiquei muito feliz e muito brava ontem. Feliz porque é melhor saber que o bebê não tem uma síndrome e brava porque eu não precisava ter me desgastado tanto. Tenho que curtir minha gestação.
Muitas pessoas me ligaram ou mandaram mensagens super felizes pelo resultado. Foi ótimo isso!!! Muito bom que tem várias pessoas torcendo por nós.
Hoje fui reler o que escrevi ontem e achei tudo muito intenso e um pouco contraditório. Minha cabeça ficou dando voltas a mil por hora. Tenho que colocar tudo em ordem e voltar a ser a Bruna de antes. Um passo depois do outro.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Resultado verbal do cariótipo

Fiquei a tarde toda hoje arrumando algumas coisas em casa e esperando o Felipe chegar para ligarmos para a clínica de genética médica para saber o resultado verbal do cariótipo do líquido amniótico.
Os médicos sempre disseram com tanta convicção que o bebê tem uma síndrome que, na minha cabeça, achei que hoje só iriam nos dizer se ele tem Edwards ou Patau. 
O Felipe até chegou mais cedo do trabalho. Ele sempre fica quietão quando está tenso ou preocupado com alguma coisa. Ele estava super quieto. Ligamos no consultório e a recepcionista foi buscar o resultado do exame para nos dizer. 
Recepcionista: "É um menino cromossomicamente normal."
A única coisa que ela pôde fazer foi ler o que estava escrito no papel. Ela não é capaz de tirar nossas dúvidas. Então pedi para ela uma consulta com o médico. Agora eu quero vê-lo. Esse doutor Walter Pinto é um ogro mas eu preciso tirar várias dúvidas agora. Dizem que ele é o melhor médico dessa área, então vai ser bom conversar com ele só que agora eu não vou aceitar qualquer tipo de estupidez da parte dele. Ele não é nada meu e eu não dei liberdade para ninguém ser e estúpido comigo, principalmente agora que estou grávida. Não quero me aborrecer nem me chatear com nada mais, não vale a pena. Estavam todos tão certos da síndrome, e agora? O que eles vão inventar? Querem ter razão em tudo e fazem tanto terrorismo. 
Se eles achavam tudo isso, que eles sabem que é pesado, eles deveriam ter tido mais tato para conversar comigo. Eles só foram vomitando tudo na minha cara sem me preparar para receber todas essas coisas. Eu estou grávida! Todos sabem que grávidas ficam mais sensíveis! Até pessoas que não estão grávidas e eu contei isso tudo elas ficaram péssimas!
Esses médicos esqueceram que estão lidando com gente. Agora chega de ser tratada desse jeito porque ninguém recebeu minha permissão e consentimento para isso tudo. Eles não devem me dizer quais decisões tenho que tomar baseado nas suposições deles. Eles só devem me passar as informações médicas que eles possuem com o que houver de profissionalismo neles. Sem serem grossos e estúpidos. 


Edwards ou Patau?

Não é Edwards nem Patau. É a síndrome do raio que parta esse bando de médicos terroristas.

"Ele tem Edwards, vai ter morte intra uterina. É incompatível com a vida. Tem que interromper a gestação. Se ele morrer com mais de dois quilos vai ter que ser feita uma cesárea. Se, por acaso ele não tiver morte intra uterina e ele nascer o coração dele mão vai durar mais que algumas horas..."

Bando de médico filho da puta que fica falando um monte de merda sem necessidade e sem o mínimo de delicadeza. Vou voltar em todos eles e mandá-los para o inferno. Não se faz isso. Foram 33 dias desde o ultra-som morfológico até hoje. Eu achando que meu bebê tem uma síndrome maldita porque meus óvulos estão podres. Esses médicos só me fizeram sentir um lixo durante todo esse tempo.
Precisava de tudo isso? Tanto terrorismo? Foi terrorismo sim o que eles fizeram! Não precisava ter falado nada dessas porcarias de síndromes, que são incompatíveis com a vida e o diabo a quatro. Era só falar que iria ser necessário fazer um exame para avaliar se o bebê tem alguma alteração cromossomica e ponto final. Fiquei dias pesquisando sobre essas síndromes, vendo aquelas fotos tristes demais de bebês todos deformadinhos e me sentindo péssima de não estar gerando um filho perfeito.
Eu quero saber o que pode ter causado os problemas no coração e no lábio dele. Saber o que médicos acham que pode ser feito pelo bebê, porque eles não tem certeza de nada. Mas nunca mais vou permitir que façam esse terrorismo todo. Nós não merecemos isso e os médicos não deuses.

Terapia

O que eu percebi até agora é que não dá para conversar com qualquer pessoa sobre o que está acontecendo. As pessoas ficam sem saber o que falar quando eu conto. Elas ou ficam quietas ou tentam falar alguma coisa que quase sempre não me faz bem. Mesmo os médicos que deveriam ter mais tato foram os que mais propagaram o terrorismo até agora. Ficam fazendo estimativas de quando o bebê vai morrer como se eles pudessem calcular tudo de forma precisa.
Mas eu tenho necessidade de conversar. E agora?
Decidi entrar em contato com uma terapeuta. Felizmente ela pode me atender rápido. Hoje foi o primeiro dia e foi muito bom. Ela deve ser ótima mesmo, porque sai de lá me sentindo muito melhor. O objetivo era esse mesmo, conseguir me sentir mais leve para poder curtir minha gestação. Tenho que viver uma coisa de cada vez e não pular etapas. Não adianta ficar sofrendo por antecipação se já decidimos que vamos deixar as coisas acontecerem como tiverem que acontecer. Não vamos interromper a gestação.
Depois da terapia aproveitei que estava no centro de Campinas e fui ver se achava uma calça estilo pantalona. Fazia tempo que estava querendo uma e hoje eu achei. Só tinha uma na loja, mas é linda e serviu direitinho.
Hoje também é o dia que vai sair o resultado do cariótipo do bebê. Liguei na clínica para perguntar se já está disponível e a moça disse que o resultado verbal estará disponível só depois das 17 horas.
Resultado verbal? Curioso isso. Ela disse que as pessoas ficam ansiosas para saber o resultado então eles dão pelo telefone mesmo. O resultado impresso precisa de mais dois dias para eles reunirem as imagens e montarem tudo.
Conversei com o Felipe e combinamos de ligar juntos. Pensando bem é melhor assim mesmo, eu estava meio tensa de ter que passar em uma consulta com aquele médico geneticista só para pegar o resultado. Ele é o melhor geneticista mas ele não tem um pingo de tato com as pessoas. Ele disse coisas super desnecessárias e pesadas para eu e o Felipe.
Agora é só esperar mais um pouco para saber o que o bebê tem. Não estou ansiosa por isso não.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Unidade Básica de Saúde (Posto)

Fiquei com muita vergonha do que aconteceu no dia que eu fui no CAISM, o hospital da mulher da unicamp. Eu não queria ficar chorando e nem queria que as pessoas facilitassem as coisas para mim por causa disso. Mas tem horas que o choro vem com tudo.
Eles haviam dito que não seria necessário eu passar em uma unidade básica para pegar encaminhamento para a equipe de genética médica, mas como eu estava com vergonha de tudo fui numa ontem porque sei que esse é o procedimento correto.
Quando cheguei lá tive que fazer o cartão do SUS. Até agora o meu pré natal foi todo pela unimed de Campinas, então eu nunca tive esse cartão do SUS. A recepcionista fez o cartão mesmo eu tendo esquecido o comprovante de residência. Depois ela me encaminhou para o local em que eu deveria agendar uma consulta. 
Neste lugar uma outra recepcionista pediu meu comprovante de endereço para poder agendar a consulta. Eu expliquei que havia esquecido então ela disse para eu voltar em outro dia com ele. 
Então perguntei para ela como seria para pegar o tal do encaminhamento para o CAISM. Mostrei para ela o papel que o CAISM tinha me dado para ser preenchido pela unidade básica. 

Recepcionista: "O que o bebê tem mãezinha?"

Expliquei para ela tudo, ela abriu o computador e agendou a consulta sem o comprovante de residência. Ficou para o dia 05/03/2015 às 11:30. Dessa vez eu não precisei chorar nem nada. 
Eu estou achando o SUS melhor que a unimed de Campinas. Pelo menos aqui em Campinas o SUS funciona muito bem. Se fosse pela unimed uma primeira consulta com um medico ia ficar para daqui uns 3 meses. Tem médicos que nem pegam mais pacientes novos.
Aproveitei que estava no posto e fui tomar a última dose da vacina de hepatite. Quando entrei na sala a enfermeira conferiu se tomei as primeiras doses antes de engravidar. As duas primeiras eu tomei antes de engravidar, só faltava a última dose e a obstetra tinha falado que podia tomar grávida. 
Fiquei conversando com a enfermeira e comentei para ela que estou achando o atendimento pelo SUS melhor que particular, ela comentou a mesma coisa, que está sendo mais rápido conseguir consultas e exames pelo SUS que particular. E os médicos do SUS de Campinas são ótimos. 
Comentei sobre os problemas do bebê. Ela conhecia a tal da síndrome. 

Enfermeira: "Você vai ter que ser muito forte. Se prepare para o pior que o que vier é lucro."

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tem certeza que é só um?

Será que minha barriga está tão grande assim? Duas pessoas me fizeram essa pergunta hoje.
Pelo menos os médicos me disseram que é só um bebê sim.
Na verdade, eu já estava com um pouco de barriga antes de engravidar, isso deve influenciar.
A barriga está grande mas não tem atrapalhado em nada. Hoje fui nadar e eu estava nadando até melhor que antes de engravidar. Acordei bem disposta.
Achei uma foto do dia 10 de agosto de 2014. Essa é a data da minha última menstruação. Teoricamente eu engravidei duas semanas após essa foto. Dá para ver nela que eu estava um pouco acima do peso mesmo, embora estivesse correndo regularmente.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

Depressão?

Felipe: "Duvido você subir numa árvore."
Bruna: "Ah é???"


Mas como foi que chegamos nesse ponto? Uma grávida de quase 7 meses subindo numa árvore. E o marido do lado dando corda... não são dois inconsequentes?


Quem viu pensou isso mesmo, dois inconsequentes. Mas ninguém sabe de nada.
Esse Felipe é um cara super quieto e observador. Não deixa passar nada, presta atenção em tudo. É incrível, quantas vezes ele chegou e disse que eu estava irritada por um motivo ou outro e eu nem tinha percebido que estava irritada ainda. Impressionante. Ele me entende mais que eu.
Hoje, pela primeira vez em quase 8 anos juntos, ele foi me acordar perto do meio dia depois de ter feito o almoço. Enquanto almoçávamos ele já foi falando de sairmos. Fomos ao parque ecológico de Campinas, fizemos uma trilha de 3 km e ainda subi numa árvore! Passei minha infância inteira em cima das árvores da fazenda. Eu subi em todas as árvores e ninguém subia melhor que eu. Eu ainda conseguia subir numa árvore e pular de uma árvore para a outra. Então eu subia por uma árvore e descia por outra, tipo uma macaca mesmo. Até hoje eu adoro subir em árvores.
Mas, por que ele fez isso? Será que se eu só estivesse grávida e não tivesse mais nada acontecendo eu teria dormido até quase meio dia? Acho que não, tinha dormido bem a noite e eu sempre acordei por volta das 5 da manhã. O corpo acostuma a acordar cedo. Mas tem algo estranho acontecendo e eu tenho medo de entrar em depressão.
A pessoa começa a ficar demais em casa, dormir demais, perder o interesse de fazer as coisas que gostava.
Tem muita coisa que ele não entende mas ele é perfeito mesmo assim. Logo que soubemos dos problemas do bebê ele esfriou um pouco, parou de fazer carinho na minha barriga. Mas ele não pensou que isso fosse me chatear. Conversei com ele e expliquei que eu ainda estou grávida e preciso que ele continue agindo como antes. Expliquei que o bebê ainda é nosso filho e ele ainda está aqui. Ele entendeu.
Depois ele começou a falar que se não der certo e perdermos mesmo o bebê, ele gostaria de já tentar outro em seguida. Fiquei meio chateada de novo mas depois pensei que ele não entende porque não é no corpo dele mesmo. Expliquei para ele que eu preciso de um tempo, que é diferente. Também tem toda a alteração hormonal e eu acho que ainda vão acontecer muitas coisas pesadas para nós dois. Vai ser necessário um tempo mesmo.
Eu estou até pensando em adotar uma criança, mas ele também acha que devemos tentar novamente antes de partir para adoção. Vamos ver como as coisas vão caminhar.
A única coisa que eu sei é que ficar esse final de semana com ele foi ótimo. Subir numa árvore então, nem se fala! Se o bebê vai morrer ao nascer mesmo ele tinha que sentir como é estar em cima de uma árvore mesmo que dentro da minha barriga.


Muitos casamentos terminam por causa de problemas muito menos delicados que esse. Nós dois queríamos muito um bebê. A primeira reação foi procurar o motivo de tudo isso estar acontecendo. Mas não devemos procurar culpados. Não devemos ficar intolerantes um com o outro por conta dessa situação toda. É natural ficarmos estressados mas não devemos descontar um no outro mas sim buscar apoio um no outro. Assim tem sido.
Eu sempre brinco que ele é um Felipe insensível mas, na verdade, ele é um Felipe perfeito.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Angustia

Definitivamente eu não posso ficar em casa sozinha. Isso não presta. A pior coisa do mundo é ficar em casa o dia inteiro sozinha. Nunca mais vou desperdiçar um dia assim.
Acontece que fui dormir muito tarde nesta noite por conta do meu aniversário ontem. Acordei tarde e não saí de manhã. Foi tudo virando uma bola de neve, daí ficou nublado, parecia que ia chover e eu não sai a tarde.
Ficar em casa é muito deprimente. Eu adoro minha casa, adoro mesmo. Mas ficar em casa é muito deprimente e eu não quero entrar em depressão. Todas as pessoas que eu conheço que tiveram depressão elas começaram ficando dentro de casa. Saindo cada vez menos. Perdendo a vontade de viver.
Poderia ter ido dar uma voltinha de bicicleta, já teria sido o suficiente. Mas eu liguei o computador e comecei a pesquisar coisas relacionadas aos problemas do bebê. Fui me atolando numa poça de angustia.
Eu me conheço, sei que não deveria te feito isso. O Felipe está trabalhando e só eu estou de férias. Tem as porquinhas da índia aqui mas elas não são muito boas de papo.
Estava fazendo tudo direitinho. Já foram duas semanas de férias e só hoje eu fiz tudo errado. Não posso fazer isso, vou me descontrolar mais. Tenho que fazer tudo que me ajude a me manter controlada e não perder a cabeça. Não posso ficar em casa e nem na frente do computador. Não há nada que eu possa fazer para resolver os problemas do bebê.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

30 anos

Hoje foi o meu dia. Ótimo dia. Completei 30 anos! Não posso reclamar de nada não, tenho muitas coisas boas na minha vida e fazer 30 anos não é ruim.



Atividade física

Já estava fazendo musculação desde muito tempo antes de engravidar. Continuei fazendo meu treino normal até 12 semanas de gestação. Ainda não tinha barriga e dava para fazer tudo normal, até os abdominais. Não que eu não soubesse que estava grávida, mas estava conseguindo fazer tudo normal e os médicos haviam liberado.
Com 12 semanas de gestação resolvi contar na academia que estou grávida. Pensei que a moça ia arregalar os olhos, mandar eu sumir de lá e só voltar depois que o bebê já estivesse com um ano. Nada, ela perguntou com quantas semanas estava e isso me impressionou porque a maioria das pessoas conta a gestação em meses, embora o correto é contar em semanas. Daí eu pensei: "Opa, ela manja de gravidez."
Não que ela já tenha tido filhos, mas já trabalhou com muitas gestantes. Ela montou um treino bem bacana, para gestante, com bastante exercícios para fortalecer os músculos do assoalho pélvico.

"Esses músculos estão localizados na região entre as pernas, a partir do osso púbico na frente até a base da espinha nas costas. Eles ajudam a sustentar a bexiga, o útero e o intestino, e a controlar os músculos que fecham o ânus, a vagina e a uretra. 
...
Músculos do assoalho pélvico fortes dão melhor apoio ao peso extra da gravidez, ajudam no segundo estágio do trabalho de parto e, ao aumentar a circulação, auxiliam na recuperação do períneo (área entre a vagina e o ânus) após o nascimento do bebê por parto normal. Quando feitos regularmente, esses exercícios ajudam a prevenir a manifestação da incontinência urinária e do prolapso."

Fonte: Baby Center

Com 25 semanas de gestação eu já fiz 53 horas de musculação. Dá para o gasto. Controlo tudo no endomondo. Instalei no celular e sempre ligo ele quando começo alguma atividade física.
O legal de fazer musculação é que quando chego na academia a mulherada fica doida. Todas querem conversar comigo, acho um barato.
"Mas pode fazer musculação?"
"Você está bem?"
"Agora eu até animei engravidar de novo!"
Vixe, já pensou se essa mulherada tudo engravida? 


Ontem eu estava na aula de natação e foi a mesma coisa. A mulher que estava na raia do lado veio conversar comigo: "Você está ótima! Quando eu estava grávida eu não conseguia nem encher bexiga..."
Desde que engravidei foram 35 km de natação em 25 horas. Eu não nado muito rápido não, mas isso é melhor que nada.
De corrida e caminhada foram 149,25 km em 27 horas. Ultimamente eu tenho mais caminhado que corrido. Agora começa a doer um pouco no pé da barriga quando corro. E ainda tem bicicleta e yoga.
Somando tudo são 115 horas de alguma atividade física em 25 semanas.
Agora que estou de férias tenho ficado quase a manhã inteira na academia. Não quis viajar com medo de acontecer algo e eu estar longe do Felipe. Ele não está de férias e não ia poder sair comigo. Também não quero ficar em casa sozinha. Acho muito deprimente. Tenho medo de entrar em depressão. Também tenho evitado ficar na frente do computador... sempre que fico na frente do computador eu começo a pesquisar coisas sobre os problemas do bebê e um assunto sempre puxa o outro de forma que eu fico horas só nisso. É bom e não é. É bom saber de tudo mas é muito triste ver que não há ninguém falando nada de promissor sobre um bebê com esses problemas.
Mas uma coisa é verdade: impressiona ouvir que grávida não pode fazer nada, não pode pedalar, levantar peso, correr e ficar de cabeça para baixo. Impressiona todos os médicos dizendo que meu filhotinho é tão frágil e vai morrer antes de nascer. Ah é? Fazer atividade física não tem nada a ver então. Pelo menos no meu caso, que já fazia tudo isso antes. O guri está aqui só crescendo.
Mas, se isso acontecer mesmo e eu o perder vai ter alguém que vai falar: "É claro que ela ia perder esse bebê, ela não parou de correr!".
Coitada da pessoa que falar isso para mim.






quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Dormir com 25 semanas

A barriga está grande mas não atrapalha em nada. Também não sinto vontade de ir ao banheiro toda hora igual no começo da gestação. As únicas coisas que atrapalham um pouco o sono são: o calor e o bebê que não fica quieto. Agora já dá para sentir quando ele mexe colocando as mãos na barriga. Ele mexe demais a noite.
Percebi que estou sentindo muito mais calor que o Felipe. Estou quase indo dormir em outro quarto, porque está complicado. Em outro quarto posso ligar o ventilador que o Felipe não gosta. Aqui nós não temos ar condicionado, tem hora que dá vontade de comprar um portátil.
Eu sempre acordo com calor e não consigo dormir, daí fico me virando de um lado para o outro. Acho que eu que acordo o bebê com isso, tadinho. Daí ele começa a me chutar e não me deixa dormir mais. Hoje acordei era 1 e pouco da manhã. Só consegui dormir depois das 4 da manhã. Deve ser por isso que dormi a tarde. Dormi super bem a tarde sem o Felipe reclamando do ventilador. Ele que sempre foi mais calorento que eu.

Colostro

Ontem eu e o colostro fomos apresentados um ao outro.
Eu nem sabia que ele existia, mas quando comecei a me preparar para engravidar acabei estudando muitas coisas sobre o universo das grávidas e aprendi que ele é como se fosse o primeiro leite produzido pela mulher. Na verdade, pela maioria dos mamíferos.
Não sei por que ele veio tão cedo. Ainda estou com 25 semanas. Mas li que é normal o corpo começar a produzir tão antes do nascimento do bebê.
Acordei a noite para ir ao banheiro e vi que tinha saído enquanto eu dormia. Fiquei meio impressionada porque não senti nada. Disseram que talvez eu tenha sonhado que estava amamentando. Não sei. Só sei que meu corpo está se preparando para receber o bebê.