segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Acupuntura

Antes de engravidar eu estava fazendo acupuntura com uma médica que sempre falava muito de uma filha dela que tem uma síndrome. Ela nunca entrou em detalhes da síndrome da filha, mas sempre fazia comentários do tipo: "Não gosto de deixá-la sozinha" ou "Ela inventou que quer fazer aulas de pintura".
Desde que soubemos dos problemas do bebê eu voltei a pensar nessa médica e pensei que seria uma boa ideia voltar com a acupuntura também. 
Marquei uma consulta com ela e fui lá no sábado de manhã. A última vez que havia estado lá foi em março do ano passado. Quando ela viu o tamanho da minha barriga ela ficou impressionada e perguntou se eu estava feliz. 
Eu não tinha pensado nisso ainda então não foi uma resposta que veio de imediato. Ela estranhou e eu comecei a explicar tudo o que estava acontecendo. 
Mostrei para ela os exames do bebê e ela olhou todos, mesmo que não fossem da área dela. Disse que tinha pensado em retomar com a acupuntura mas ela disse que isso não iria resolver nada dos problemas dele. 
Na verdade, a minha intenção era mais no sentido de me acalmar e me preparar para um parto que dizem que será seguido da morte do bebê. Se preparar para um parto em que se sabe que o bebê não tem esses problemas já é difícil.
Ela disse que o que eu vou precisar mesmo é de terapia, eu e o Felipe. 
Foi uma consulta de mais de uma hora. Ela falou muitas coisas e até ligou para uma outra médica amiga dela. Depois ela contou como foi quando ela teve a filha dela.
Ela não sabia de nada até a menina nascer.
Quando ela olhou para a filha ela viu uma mancha no rosto dela. Depois foi confirmado que ela tinha a síndrome de Sturge-Weber.
A médica disse muito para eu me preparar porque as pessoas vão ser muito cruéis. Elas vão ser cruéis sem perceber. Vão fazer perguntas que vão me machucar. Elas vão me ver grávida e depois vão me ver sem a barriga e sem o bebê e vão perguntar o que houve com ele e vai doer ter que falar sobre isso, caso isso de fato aconteça.
Ela disse algo que me fez pensar. O problema no coração do bebê é o mais sério, por isso vão operar o coração primeiro em vez do lábio. Mas, quando ele nascer vai ser muito chocante olhar para o rostinho dele. A gente sempre imagina que vai ter um bebê lindo e perfeito mas eu vou achá-lo lindo do jeito que for. No caso dela ela deve ter relembrado da sensação de olhar para o rosto da filha. A gente sempre quer fazer o melhor para os nossos filhos e ela insistiu que eu vou fazer o melhor para ele, que ela não tinha dúvidas disso.
Ela foi muito bacana. Falou várias coisas de incentivo e força. Me deu um abraço e pediu cópias dos meus exames para encaminhar para médicos conhecidos dela.
Enquanto comentava da filha ela também contou que após o nascimento dela o marido a abandonou. Fiquei com isso na cabeça. É claro que ela falou várias coisas boas mas essa parte foi a que ficou martelando na minha cabeça. Fiquei pensando em como seria se fosse comigo e o Felipe me deixasse. Fiquei péssima pensando nisso e achei melhor ir conversar com ele. Sempre é ótimo conversar com ele e tirar essas minhocas da cabeça logo.
No final das contas eu nem deixei as cópias dos exames lá. Fiquei meio jururu com essas minhocas na cabeça e quis voltar para casa logo. Antes de resolver conversar com o Felipe eu estava deitada martelando isso tudo quando meu celular tocou. Era a médica pedindo as cópias. É a primeira vez que um médico me liga preocupado comigo. Fiquei impressionada com ela. Mandei tudo por email. Ela voltou a me ligar hoje falando que já havia conversado com as amigas dela e pedindo para eu consultar com uma cardiologista. As vezes o cuidado vem de quem a gente menos espera.

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