sábado, 24 de janeiro de 2015

Ir à escola

Em 1995, mais ou menos nessa época foi o primeiro dia de aula da quarta série. Como sempre, fui para o ponto de ônibus esperar o ônibus que me levaria para a escola.
Tinham muitas crianças naquele ponto e todas estava exibindo e comparando seus materiais novos da escola. Mochila, caderno, lápis de cor, canetinha, tudo.
Meu pais não tinham comprado nada neste ano para mim. Eu sentia como se estivesse indo para escola pelada. Estava de mãos vazias esperando o ônibus chegar e tentando fingir que nada estava acontecendo. As outras crianças viram que eu não tinha nada nas mãos mas eu as ignorei.
A orientação que eu havia recebido dos meus pais era pedir um caderno e um lápis na escola. Quando cheguei na escola fui correndo ver quem era minha professora e qual era a sala. Encontrei a professora o mais rápido que pude para explicar que eu não tinha material e pedir um caderno e um lápis. Minha intenção era resolver isso antes para não chamar a atenção das outras crianças para isso, mas quando encontrei a professora ela estava igual barata tonta tentando encontrar todas as crianças da sua turma. Ela pediu para esperar quando estivessem todos na sala. Meu plano tinha ido para o espaço. Ela iria pegar o caderno e entregar na frente de todas as outras crianças na sala e daí todos iriam fazer um monte de perguntas e eu iria me sentir super constrangida.
Então estavam todos na sala, a professora começou a falar. Eu fui ficando cada vez mais nervosa esperando ela se lembrar que eu não tinha cadernos. Ela se apresentou, explicou algumas coisas, falou, falou e falou. Nada do caderno e do lápis e eu fui entrando em pânico. Estava óbvio que ela tinha esquecido e eu teria que pedir de novo na frente da sala inteira.
De repente ela pediu para abrir o caderno e anotar algo. Pronto. Comecei a chorar. Já estava me sentindo um lixo, ela ter se esquecido de mim foi mais um motivo para eu me sentir um monte de merda. Ela ainda perguntou por que eu estava chorando, daí a relembrei que eu não tinha caderno e lápis. Ela saiu correndo da sala para pegar para mim.
Nunca consegui esquecer isso e me preparei a vida todo para que meu filho não passe por algo assim. Sempre rotulei isso como um baita de um descaso e incentivo para que eu  não estudasse. Mas sempre estudei demais porque só assim que se tem o mínimo de chances de mudar alguma coisa na nossa vida.
Agora eu não sei nem se meu filho vai poder ir à escola.

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