segunda-feira, 16 de março de 2015

O Cirurgião Cardíaco

Fomos à primeira consulta com o cirurgião cardíaco. Chegamos no consultório junto com uma velhinha carregando um menininho. Eram avó e neto. Estávamos sentados na recepção aguardando o médico nos chamar quando um senhor chegou também. Era o avô no menino. Ele nos cumprimentou e perguntou se o nosso também iria operar.
Pelo também deduzi que o bebezinho já havia sido operado. Desde o começo estava prestando atenção nele, imaginei que ele fosse o paciente porque alí era o consultório do cirurgião cardíaco pediatra. Um menino super quietinho. Fiquei prestando atenção para ver se notava algo mais nele, mas me pareceu só um menino lindo e quieto.
Perguntei a idade dele e se ele já havia sido operado. Ele tem 1 ano e 4 meses e foi operado após fazer um ano.
Bruna: "Ótimo, ele sobreviveu e está bem.", pensei.
De repente o avô foi falar algo do pós operatório mas a avó o interrompeu.
Avó: "Não fala, ela está grávida!"
Fiquei pensando por um segundo se pedia para ele falar ou não. É claro que fiquei curiosa, mas não sei como vou reagir a nada mais. Nem imaginei que o ultrassom 4D fosse me alterar tanto, então achei melhor ficar quieta.
Fiz outras perguntas, lembro que perguntei quanto tempo ele ficou internado após a cirurgia e eles me disseram que o Osvaldo ficou 50 dias internado. De repente o avô começou com um: "mas depois que ele saiu...", mas a avô o interrompeu novamente dizendo para não me falar nada porque eu estou grávida.
Fui ao banheiro. Quando voltei o médico os chamou para serem atendidos, ele abriu a porta da sua sala e foi falando: "Oi Osvaldinho!!". Nisso o Felipe me disse que esse médico parecia ser muito legal.
Felipe: "Quando você foi no banheiro eles me falaram o que aconteceu, o bebê ficou cego."
Não consegui pensar em mais nada. Eles ficaram quase uma hora lá na consulta e o Osvaldo parecia que estava sendo torturado porque ele chorava muito. Fui ficando cada vez pior.
Depois a avó saiu com o neto e ele estava meio amuadinho, fiquei prestando atenção e ele não era quietinho, ele parecia um bonequinho de pano. A avô falava: "Calma, é a vovó, é a vovó."
Depois ela virou e me disse: "Tem horas que eu tenho vontade de sumir... se eu te falar o que ele tem você vai ficar com dó de mim e vai querer me dar dinheiro."
Médico: "A cirurgia foi um sucesso mas, infelizmente, ele ficou com essas sequelas."
Quando o médico nos chamou o sorriso de orelha a orelha ao dizer cumprimentar o Osvaldo havia desaparecido. Toda a expressão dele havia mudado.
Eu me esforcei muito para entender tudo o que ele foi falando após analisar todos os exames do Dário, mas minha cabeça estava dando nó. Só sei que ele disse que o melhor lugar para ele nascer é a maternidade de Campinas, de cesárea com 39 ou 40 semanas. Após isso ele deve ser transferido para a PUC para ser operado, caso necessite de operação, porque tudo vai depender de como ele evoluir até o final da gestação e após o parto. Pode ser que ele não precise ser operado mas que tenha que ser submetido a alguns procedimentos que não implicam nem em abrir o peito dele, então isso pode ser feito na maternidade mesmo.
O que seria realizado na PUC seria o tal do blalock, ele precisa abrir o peito dele para inserir um canal de comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar. Esse é um procedimento paliativo para que ele possa ser operado do lábio. Tudo vai depender do grau do problema do coração e do lábio. Porque o lábio pode ser mais problema que o coração, caso ele tenha muita dificuldade respiratória.
Dessa forma,o coração deve estar estável para operar a face.
Médico: "Existe uma questão estética e existe uma questão funcional."
Enfim, não dá para prever nada.
Ele só disse que é melhor nascer de cesária para ser algo bem programado na maternidade, para o caso de ter lá já disponível uma vaga na UTI e os médicos necessários para avaliar a evolução dele. Ele disse que não seria uma boa eu entrar em trabalho de parto num domingo de madrugada. Caso agendem um dia para a cesárea e cheguem mais emergências nesse dia que ocupem todas as vagas da UTI, então eles entram em contato comigo e agendam outro dia.
Na maior parte do tempo eu só ouvi um bla bla bla dele. Eu sei que não dá para prever nada e ele nos atendeu super bem, respondeu nossas dúvidas e explicou tudo direitinho. O que me deixou impressionada mesmo foi a avó com o neto lá na recepção. Cade a mãe do menino? Eles só souberam do problema do bebê após o nascimento, fizeram todos os ultrassons mas não foi identificado nada. Eles o levaram para casa mas notaram que ele tinha alguns problemas. Só então descobriram que ele era cardiopata. Fiquei impressionada. Deve ter sido um choque para ela, porque foi pior, ela enfrentou toda a gestação, levou o filho para casa, descobriu o problema, ele foi operado e ficou cego.
Avô: "Ele estava assim, brincando, e começava a passar mal..."
Será que a mãe dele não aguentou? Será que eu vou aguentar? Eu suportaria se fosse ele meu filho e eu o visse daquele jeito? E o Felipe, como vai reagir?
Ainda vai acontecer muita coisa e eu não sei se estou preparada não.



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