sábado, 17 de outubro de 2015

Papinha de frutas

Vira e mexe aparece alguém comentando sobre como o meu leite é ralo, aguado, branco e fraco. Isso porque sempre chega um frasco do meu leite para instalarem na bomba que alimenta a sonda do Dário. A pessoa pega o frasco e solta algum comentário desses. Quanta blasfêmia.
"Esse leite é muito ralo, não tem mucilagem nenhuma."
"Ainda bem que não tem."
Aqui tem vários bebês cardiopatas e o Dário não aparenta ter cardiopatia nenhuma.
"Ele é grande, gordo e bonito"
Eu fico com pena de quem acha que engordar um bebê com farinha e açúcar é melhor que dar leite materno.
Quem disse que eu quero que ele se torne um bebê obeso? Isso só iria aumentar as chances dele se tornar um adulto obeso e quem disse que o coração dele vai aguentar a obesidade?
Nem um coração saudável aguenta. Não estou dizendo que ele não tem um coração saudável mas ele sempre será um cardiopata, independente da cardiopatia ter sido corrigida.
Todas essas técnicas cirúrgicas são muito recentes então eles não tem muita informação dos resultados a longo prazo. É melhor não arriscar.
"Ele vai poder nadar?"
"Sim, só não vai poder ser atleta maratonista."
Ele precisa fechar a boca logo para poder nadar. Com essa fenda não vai rolar mesmo.
Desde que o Dário completou 4 meses vira e mexe aparece alguém falando de dar fruta para ele. Mas isso nunca foi um consenso entre os médicos. Na dúvida eu não deixei dar. Continuei me desdobrando para fazer as ordenhas e ponto.
Mas precisa tirar essa sonda e ele não quer pegar a mamadeira. De repente ele até topa comer uma fruta.
Uma semana antes da cirurgia a fono veio e tentou fazer com que ele pegasse a mamadeira. Isso virou um trabalho de formiguinha. Ele ficou traumatizado mesmo. Tem que ter paciência. Isso ela não teve. A copeira passou e ela gritou: viu, você me traz uma banana amassada?
Ela tinha bebido antes de vir aqui, só pode. Como que ela queria dar uma banana para o Dário uma semana antes dele ir para a cirurgia? E se desse algum problema essa cirurgia não iria sair nunca, iriamos ficar aqui mais não sei quanto tempo.
"Você perguntou para a cardiologista se não tem nenhum problema dar banana para ele?"
Como que ela queria passar por cima de todas as equipes envolvidas no tratamento dele? Que maluca.
"Mas é só uma banana!"
Não importa mesmo. Não importa se as chances de dar uma alergia alimentar são mínimas porque as chances de um bebê nascer cardiopata, com lábio leporino e fenda palatina também são. Eu não iria arriscar antes da cirurgia.
Na semana seguinte o Dário operou. Nos primeiros dias após a cirurgia ele parecia mais morto que vivo, me partia o coração ficar com ele na UTI. Parecia uma bexiga cheia de água de tão inchado e delicado que estava. Quando ele desinchou a fono voltou a ir lá.
Eu só ficava sabendo que ela tinha passado e feito exercícios de massagem na boca dele. Ele ainda estava com restrição alimentar por causa da cirurgia e estavam fazendo um balanço hídrico rigoroso nele. Ela não podia entrar com nada de comida.
A gente sempre se desencontrava nos horários porque ela ia cada dia em um horário, mas eu sempre sabia o que ela tinha feito.
Um dia eu estava lá na UTI e ela entrou. Ela chegou com uma papinha de frutas. Frutas. Será que só eu achei isso absurdo? Será que eu exagerei? Na minha cabeça existem vários motivos para não dar essa papinha para ele:
1) parece ser muito agressivo a primeira papinha de um bebê ser de várias frutas misturadas. O ideal é introduzir uma fruta de cada vez e permanecer nela por pelo menos dois dias para o bebê assimilar o sabor e para ter certeza que aquela fruta não vai desencadear nenhuma alergia.
2) o Dário tinha acabado de sair de uma cirurgia super agressiva no coração. O corpo dele ainda estava se adaptando. O coração ainda estava se adaptando, ainda estava recebendo o primacor para ajudá-lo a bater. Não parecia ser o momento para inserir mais uma mudança.
3) que deprimente a primeira papinha do Dário ser na UTI, ele ainda tem 5 meses e está ganhando peso super bem só com leite. Não está tendo deficiência de nenhum nutriente nem de nada. Não precisa de pressa para enfiar fruta nele ainda na UTI.
4) se eu não estivesse lá na hora e ela tivesse dado papinha para ele eu iria chorar lágrimas de sangue. Ela teria roubado a primeira papinha do Dário de mim. Já me roubaram tantas coisas dele que o que eu puder eu vou reter. A primeira papinha é um evento em família.
5) eu quero fazer a primeira papinha de fruta dele. Vou comprar frutas orgânicas porque colocam tanto agrotóxicos em tudo e ele já toma tanta medicação por causa das cirurgias que, na minha cabeça, faz todo sentido selecionar bem as frutas para não misturar mais toxinas no organismo dele. E outra, eu vou preparar a papinha com amor. Duvido que a cozinheira iria preparar com amor.
6) ele vai ganhar uma boca nova em breve. Melhor que ele aprenda a comer com ela em vez de ter que aprender a comer duas vezes com duas bocas diferentes.
7) se ele tivesse qualquer resposta negativa após a introdução dos sólidos ele nunca iria sair da UTI e nunca iriam liberar para operar a boca.
Eu comecei a falar essas coisas e a UTI toda ficou me ouvindo. Ninguém iria tirar a minha razão. A fono foi embora com as frutinhas dela.
Eu ainda acho que eu não exagerei. Sempre que penso nisso acho absurdo ela ter entrado na UTI com aquelas frutas. É o tipo de coisa que sempre vou lembrar com indignação.
Eu não sou profissional de nada mas tenho instinto materno.
"Dário, se algum dia você ler isso você pode até pensar em alguma fruta que você adora e teria aceitado de paixão mas a sua mãe não deixou te darem papinha nenhuma."

Gatinho


Ofurô


Ordenha


A ótima saturação do Dário 







4 comentários:

  1. Parabens Bruna pelo seu cuidado com seu bebe e por compartilhar todos os desafios que é a maternidade a voce e sua familia, estamos orando por voces e voce com seu sucesso em cuidar desse lindo bebe, que é a joia mais preciosa na sua vida concerteza.

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  2. Olha, a.sociedade tem a mania de menosprezar o leite materno, é ridículo isso que te falaram sobre se leite, ele é o melhor alimento do mundo , você é a mulher forte e informada, já pensou o quanto de mães cedem a.esses absurdos? A média de amamentação no Brasil é de 54 dias por conta de gente assim, por conta da Nestlé, etc.
    Você não exagerou em relação a fruta, a introdução alimentar é um momento seu, essa médica foi uma intrometida. A introdução deve ocorrer após alguns dos sinais, o bebê, saber sentar sozinho, início se dentição, manifestar vontade pelo alimento. É recomendado após 6 meses, sendo que até 1 ano se idade o leite, tanto materno, quanto artificial, é o principal alimento, tem linhas que ainda defendem a introdução com 1 ano. Seja firme e continue negando essas tolices que te falam.

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    1. Egle, muitas cedem mesmo! Eu sou teimosa demais porque estou vendo que ele está super bem. Mesmo sendo cardiopata ele se desenvolve bem com leite materno. Ficou quase dois meses tomando só leite materno e se desenvolvendo como um bebê sem cardiopatia. Essa fono foi bem estranha mesmo. Ainda bem que ela não fez estrago nenhum.
      Vou continuar em cima dos médicos sim. Não se pode confiar cegamente.

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