quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Resultados do SAC

O Dário está tão bem. Está gordinho e com a saturação ótima.
A cor dele ficou bem diferente. Ele ficou mais branquinho e rosado. A boca ficou bem vermelhinha.
Ainda está com tosse com secreção. Estão aspirando ele todos os dias. Quando ele tosse ele sente dor porque as costelas ainda estão sensíveis por conta da cirurgia. Eles serram as costelas para acessar o coração. Por isso é melhor aspirar logo para tirar a secreção para ele não ficar sofrendo.
A saturação dele sobe bastante depois que aspira. Mas a saturação está ficando sempre acima de 90.
Ele fez bastante amizade com a menininha do quarto do lado. Ela também é cardiopata, tem dois anos. Está se recuperando da última cirurgia.
É um barato, ela adora o Dário. Quando ela está no quarto e escuta o Dário chorando ela pede para vir vê-lo.
"Dá um sorriso para mim?"
Ela pede um sorriso para o Dário e fica sorrindo para ele. Ela canta, dança e desenha para o Dário. É linda.
Tinha um menino aqui de 5 anos, toda vez que ele via o Dário ele saia gritando que não queria ver esse bebê horrível. A mãe dele não falava nada e as enfermeiras ficavam revoltadas.
A menininha percebe a boca dele. Ela fica olhando. Depois ela sorri e fica querendo dar um abraço no Dário. Acho uma fofura.
A gente vai conhecendo um pouco da história de cada família aqui.
Por causa do dia das crianças tiveram várias apresentações. Cada dia tinha uma coisa e convidaram todas as crianças dos 3 andares.
Nós fomos mas eu não consegui ficar nem 10 minutos lá.
Algumas mães não sabem separar as coisas. Era um momento de descontração e elas ficavam falando muita coisa ruim. Só viam as coisas ruins que aconteciam.
A gente sabe que tem vários bebês que não estão bem, mas também tem vários que estão bem melhor do que haviam previsto. Por que só falar dos que não estão reagindo? E outra, acho que nem era o momento para ficarmos falando de cardiopatias. Era a festinha das crianças. Eu queria brincar com o Dário e nem consegui fazer nada.
Enquanto o Dário ficou na UTI eu fui no SAC e reclamei que não dava para as enfermeiras cuidarem de dois bebês lá. Eu vi coisas que me assustaram demais porque elas ficavam muito sobrecarregadas. Elas não conseguiam parar nem para comer de tanta tarefa.
Eu acho arriscado uma pessoa faminta medicar um bebê. Eles recebem várias medicações de nomes complicados e com doses diferentes. Para elas trocarem alguma é muito fácil. Mas esse nem é o maior dos problemas. E se os dois bebês tiverem uma parada ao mesmo tempo? Infelizmente um bebê ter uma parada acontece frequentemente na UTI.
Teve um dia que teve uma intercorrência com um bebê e não conseguiram nem instalar a sonda de leite do Dário até que o outro bebê se recuperasse. E se tivesse alguma intercorrência com o Dário também? Teriam que escolher qual bebê salvar?
Também reclamei da postura de alguns médicos residentes que fazem o ecocardiograma. Nós tivemos várias experiências ruins com esse exame. O mais absurdo foi quando uma médica começou a fazer o exame e a dizer: Ai meu Deus, o que é isso?
Como alguém olha para o coração do meu filho e fala isso? Eu fiquei tão descontrolada no dia.
Essa mesma médica não aceitou quando eu disse que não queria mais que ela fizesse o exame no Dário. Ela ficou muito brava.
Para mim a gota d'água foi quando eu estava na UTI e vi uma residente fazendo eco em um bebê. Ela foi embora e deixou a grade do berço abaixada. Juntou os dois problemas num evento só. Um erro básico cometido por um residente e ninguém viu porque a enfermeira estava atarefada com alguma outra coisa.
Se o bebê cai ia sobrar para quem? Para a enfermeira, óbvio. Porque ela que não estava do lado da médica durante a realização do exame. E quem iria provar que foi a médica mesmo que deixou a grade abaixada?
O SAC daqui funciona mesmo. Eu fui lá e todos os setores envolvidos foram notificados. No dia seguinte já tinha uma pessoa por bebê na UTI. Mas a supervisora de lá veio conversar comigo e disse que a mulher que estava cuidando do Dário recebeu uma advertência por ter atrasado a instalação do leite dele.
Como eu disse, sempre estoura no lado mais fraco. Não era culpa dela, ela não deixou de instalar por preguiça ou má vontade. Ela deixou de instalar o leite por causa da falha administrativa.
Essa supervisora não está com nada. Ela foi incapaz de reconhecer qualquer falha dela. Ela colocou dois bebês que recém operados para uma única pessoa cuidar. Nem ela própria teria dado conta de fazer todas as tarefas envolvidas nisso.
Eu falei isso para ela.
Como eu poderia confiar deixar o Dário lá nessas condições? Mas mudou rapidinho depois que eu reclamei.
É por isso que sempre é bom reclamar, mas reclamar no lugar certo.
Hoje de manhã entrou um médico no quarto. Era o tal do Gustavo Favaro. Ele veio falar da reclamação que registrei sobre a parte do eco. Resumidamente ele disse que minha reclamação é pertinente, que eles recebem muitos profissionais despreparados porque há uma falha muito grande na educação do Brasil mas que a parte de imagem do beneficência portuguesa de São Paulo é uma das melhores do país porque funciona do jeito que funciona. Ele disse que aqui, por ser um hospital escola, é melhor que o Einstein.
Deve vir mesmo muito residente que agrega muita coisa boa porque traz um novo olhar. Mas também vem residente que não agrega nada de bom, que tem uma postura super fraca, como a da tal da Karen que quando começou a fazer o eco do Dário começou com os "Ai meu Deus, o que é isso?". Ela recebeu uma advertência merecida.
Eu reclamo mesmo. Faço tudo o que posso fazer pelo Dário. Tenho que garantir que ele será bem cuidado.
Eu estou bem cansada. Bem cansada mesmo. Sinto falta da minha vida. Fico pensando como seria se não estivéssemos aqui. Mas é melhor pensar que em breve vamos embora e vamos poder curtir muito o Dário. Ninguém vai ficar incomodando a gente toda hora. No hospital a gente não tem descanso, toda hora alguem entra no quarto para mexer no Dário. Uma hora tudo isso vai acabar e vamos ter mais tranqüilidade.

A reclamação que eu registrei no SAC no dia 06/10/2015:

Olá, meu nome é Bruna Coimbra Perboni, meu bebê está internado no hospital beneficência portuguesa de São Paulo desde o dia 30/07/2015. O nome dele é Dário Perboni Braunger, nasceu no dia 06/05/2015 portador de cardiopatia, lábio leporino e fenda palatina. 
No dia 31/07/2015 ele fez a primeira cirurgia cardíaca. Ficou na UTI cardiológica até o dia 06/08/2015, depois fomos para o quarto 4217, no segundo andar da pediatria. Ficamos nesse quarto por mais de um mês, depois fomos para o quarto 4220. No dia 28/09/2015 o Dário foi para a segunda cirurgia cardíaca e está na UTI até hoje. Tenho uma lista de várias reclamações para fazer de todo esse tempo que estamos aqui.

1) enquanto estávamos na pediatria o Dário teve que fazer vários  ecocardiogramas. Nós fomos levados até o local do exame sempre. O exame sempre é começado por um residente, quer eu queira ou não. Acho errado porque o Dário é só um bebê. Ele fica lá naquela sala gelada, jogado na maca, com um médica passando um negócio gelado nele e apertando o peito dele. Isso assusta um bebê. Todas as experiências que tivemos foram super desastrosas com médicas que tinham desde dificuldade de usar o aparelho até dificuldade de entender o que estavam vendo. Enquanto isso o Dário estava sendo exposto a uma dose extra de transtorno. Ele sempre chega quieto e eu faço o possível para mantê-lo assim, mas depois de uma hora as coisas começam a ficar complicadas. 
Há uma residente de nome Karen Monteiro. Da primeira vez que ela fez o eco do Dário ela começou a conversar sozinha dizendo coisas do tipo: "Ai meu Deus, o que é isso?" 
Eu estava tentando manter o Dário calmo mas quem perdeu a cabeça fui eu quando ela começou com isso. Ela saiu da sala e foi buscar ajuda, daí ela voltou com outra residente. Essa segunda eu nem consegui olhar o nome de tão assustada que fiquei. Elas começaram: "Ai meu Deus, o que é isso?" "Ai, não sei!!!"
Duas marmotas sem um pingo se profissionalismo e bom senso. Depois de uma hora saíram para chamar o supervisor porque elas não estavam conseguindo fazer nada. Veio o Gustavo Favaro que fez o exame em 10 minutos e começou a dar aula para todos os residentes que estavam lá nesse dia. Ficou meia hora explicando para eles com termos técnicos que eu não entendi nada, eu só estava me controlando para não entrar em pânico porque já tinha ficado clado que algo sério tinha acontecido no coração do Dário. 
Depois de sermos usados como atração de circo por mais de uma hora, o Dário já estava chorando assustado e com fome, eu também já estava quase chorando de pânico, daí o tal do Gustavo me disse que o blalock do Dário tinha obstruído, ou seja, que ele tinha perdido a primeira cirurgia cardíaca dele. Ele disse isso como quem dá bom dia depois de todo filme de terror a que tínhamos sido expostos. 
Voltamos um tempo depois para fazer outro ecocardiograma e a residente que veio fazê-lo era a mesma Karen. A desgraçada ficou furiosa quando eu disse que não gostaria que ela começasse o exame porque ela teve dificuldades de fazer da outra vez. Eu só estava querendo proteger meu bebê de mais transtorno porque eles ficam falando de sedar o Dário para fazer esses exames enquanto que se o médico viesse fazê-lo de forma certeira tudo seria mais fácil e todos nós seriamos poupados de tanto transtorno.
Num erro meu eu disse que gostaria que o médico começasse o exame, ela começou a esbravejar que também é médica, que era formada em medicina. Ela pode até ter se formado por puro status mas lhe falta muita empatia e sensibilidade tão necessários nessa profissão. Eu comecei a chorar com sua agressividade e ela começou a fazer o exame no Dário como se estivesse mexendo num merdinha. 
O estranho é que nesse dia o Dário ficou todo alternando entre quieto e risonho. Ela nem olhava para ele e fazia o exame com toda frieza do mundo. Estava com o ego ferido, coitada. Fez o exame em pouco tempo e chamou o supervisor que ficou ressaltando que ela, como médica, tinha feito um excelente trabalho. Que raça podre. Ela deve ter falado para ele que eu havia dito que queria que um médico começasse o exame mas ela não deve ter dito nada sobre como ela se comportou no exame anterior. 
Nessa semana eu descobri que na UTI também são os residentes que começam o exame. Eu estava no quarto com o Dário e uma residente chamada Fabiane estava fazendo o eco de outro bebê. Ela havia abaixado a grade do berço, estava fazendo o eco e depois ela se levantou e foi embora deixando a grade abaixada. 
Mesmo que ele estivesse sedado, as sedaçoes passam, as vezes nem pegam direito nos bebês e esses bebês convulsionam todos os dias. Eu não acreditei quando vi aquilo. 
Eles colocam os bebês em jejum para sedar para fazer esse eco enquanto que ele poderia ser feito em 10 minutos sem sedação nenhuma.
Depois dizem que o Dário é bravo. Bravo uma ova, ele não é, ele pode até estar devido a todo transtorno que ninguém faz questão de amenizar. 
Alguns pais não ligam de um residente começar o exame, por isso eu acho que isso deveria ser com o consentimento dos pais. Nós deveríamos ser consultados antes. Eu entendo que eles precisam aprender as coisas para pararem de fazer tanta merda (algumas merdas são super  básicas, se eles tivessem o mínimo de bom senso não teriam feito) mas eles podem gravar os exames e assistir depois, quando os pais não quiserem que eles comecem. Ou eles podem só assistir o médico mais experiente fazendo, quando os pais não consentirem que eles comecem.

2) em alguns quartos da UTI cardiológica ficam duas técnicas por bebê. Cuidar de dois bebês é praticamente impossível. Nessa semana teve um dia que teve intercorrência com um bebê na UTI e a técnica que estava cuidando dele e do Dário não conseguiu cuidar do Dário enquanto o problema foi resolvido. Pediram para todas as mães saírem do quarto e só pudemos voltar depois de quase 3 horas. Nesse tempo não conseguiram nem instalar a dieta do Dário e isso era só pegar a sonda de leite e colocar na bomba. Não era ter que pegar o Dário no colo, dar mamadeira e depois esperar ele arrotar. Era algo super rápido que ninguém pode fazer por causa da intercorrência. E se acontecesse algo grave com o Dário nessa hora? Elas teriam que escolher qual bebê salvar porque não poderiam cuidar dos dois ao mesmo tempo? Porque na primeira cirurgia o Dário teve uma convulsão que não foi total, foram só os olhos, algo bem discreto. Se acontecesse isso com ele naquela hora da intercorrência do outro bebê ninguém teria notado por ser algo tão discreto. 
Quando a médica que estava fazendo o eco saiu e deixou a grade do berço abaixada a técnica não viu na hora porque ela estava fazendo outra coisa. Elas nunca estão paradas nesse quarto. Esses bebês recebem medicações toda hora e elas precisam preparar as medicações antes de aplicar. Era para a técnica estar com a médica enquanto ela fazia o exame porque se algo acontece com esse bebê a culpa vai ser dela. 
E se os dois bebês tomam 10 medicações no mesmo horário e os dois fazem coco ao mesmo tempo? Algum vai ter a medicação atrasada, bem atrasada. 
E se a técnica tem que ir na farmácia e elas vão na farmácia várias vezes por turno, daí uma técnica fica com 4 bebês, os dela e o da que foi na farmácia? Isso é muito perigoso. Isso acontece TODA HORA. É não é porque estão todos dormindo que não tem problema. Isso é muito arriscado e não vale a pena esperar uma merda acontecer para corrigir. 
Eu já cheguei lá e o Dário estava com a boca cheia de feridas, cheia de sangue porque ninguém olhou dentro da boca dele. Ele respira pela boca por causa da fenda, ficou mais de um dia com uma máscara jogando um vento seco dele. A boca ficou super seca e cheia de feridas e ninguém olhou dentro dela para ver como estava. Ele estava com 1kg a mais de inchaço, de 6,200 estava com 7,200. A pulseira de identificação estava cortando a perninha dele e ninguém viu. Ninguém viu porque ninguém tem tempo de prestar atenção em tudo. Todas só conseguem fazer o básico e isso gera muita insatisfação por não conseguir fazer um trabalho bem feito devido a sobrecarga. 
Quem vai querer se arriscar trabalhar nesse lugar em que algo pode dar errado e a pessoa teria que conviver com a culpa pelo resto da vida? 
Quando um segundo pode ser fatal se algo dá errado a técnica responsável pelo bebê pode se culpar pelo resto da vida. Por não ter visto a tempo porque estava trocando a fralda do outro ou porque foi na farmácia.
Eu queria poder ficar 24 horas na UTI mas lá não tem banheiro. Mesmo que tivesse, a gente não pode ficar lá dentro quando tem intercorrência ou procedimento.
Outro dia eu escutei por horas uma técnica falando que estava quase desmaiando de fome e ela não conseguia nunca parar para comer algo. Como uma pessoa faminta cuida de dois bebês? De dois bebês em situação tão delicada? Como eu posso ficar tranquila sabendo de tudo isso? Como eu posso ficar tranquila depois de ver que um bebê estava convulsionando e eu que vi primeiro porque não tinha alguém do lado dele?
Por que estão economizando tanto em mão de obra num lugar que tudo é o olho da cara?

A minha lista continua, depois mando o resto em outro email. Não vou conseguir terminar agora.

Att,
Bruna Coimbra Perboni



2 comentários:

  1. Que bom que teve resultado. Você é maravilhosa, super mãe. Cada dia te admiro mais. Estou muito feliz que o Dário esteja cada dia melhor, logo vocês estarão em casa. Bjos.

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    1. Obrigada!!
      Você é super mãe em dobro porque tem dois super filhos lindos e maravilhosos!
      Saudades!

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