quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sensibilidade

Hoje fomos na UniCamp para a segunda dose da palivizumabe. Dessa vez fui preparada. Passei na padaria antes e levei um saco de salgadinhos, tinha mini coxinha, enroladinho, bolinha de queijo e kibe. Muita fritura logo de manhã. Mas eu não sabia até que horas iria ficar lá e da primeira vez foi bem demorado.
Dessa vez foi bem difícil achar lugar para estacionar, fiquei super longe do local mas eu tinha levado o carrinho dele, então não tive que carregá-lo. Estou com muita dor nas costas, preciso voltar a fazer alguma atividade física. Não deveria, mas eu fico toda torta quando vou fazer ordenha.
Também não deveria ter comido toda a fritura porque o resultado do exame de sangue que fiz no sábado não foi nada bom. Glicose, colesterol e triglicerídeos tudo alto.
Enfim, cheguei no local da vacina às 8:30 da manhã. Estava marcado para às 9 e o local já estava lotado. Às 9 veio uma mulher para saber o peso dos bebês para poder fazer o cálculo do quanto da vacina diluir.
Após diluir tem que esperar meia hora para aplicar. Estava sentada esperando para começarem a chamar para aplicação quando chegou uma mulher super atrasada com um menininho. Ela sentou do meu lado e perguntou se já tinham chamado. Depois ela pediu para eu olhar o bebê dela que estava no bebê conforto para ela ir lá na sala avisar que ela estava lá para a vacina.
Depois de um tempo o marido dela chegou. Ele tinha deixado ela na porta do local para ir procurar um lugar para estacionar.
O Dário tinha acabado de mamar e estava todo embrulhado no meu colo. Estava super frio e ventando. O bebê deles estava acordado. Eles contaram que ele nasceu de 29 semanas porque ela teve incompetência do colo do útero. A única coisa que eu consegui pensar na hora foi que não é possível que o negócio tem esse nome. Mas a bolsa dela estourou e fizeram uma cesárea. O bebê chegou a pesar 600 gramas.
O homem disse que quando o viu pela primeira vez foi para casa e ficou chorando, que a pele dele era transparente e dava para ver tudo por dentro.
Hoje ele tem 8 meses, uma gracinha. Ficou muito tempo internado, mas hoje está ótimo. Ficamos muito tempo conversando, depois contei que o Dário não nasceu pré maturo, que ele nasceu com um problema no coração e vai ter que operar em breve.
Depois de muito tempo conversando e nada da vacina o Dário acordou e começou a chorar. Foi quando eles viram o rosto do Dário. Os dois ficaram mudos. O homem ficou vermelho e os olhos dele encheram de lágrimas. Ele ficou quieto enxugando elas. Fingi que não vi e, por sorte, chamaram o Dário para a vacina. Depois chamaram o Nicolas Gabriel e a mulher foi levá-lo. O homem voltou a conversar comigo. Disse várias coisas, que ele acredita que um bebê assim vem para pessoas especiais que vão dedicar todo cuidado que eles precisam. Depois ficou falando que ele me viu feliz, rindo, conversando e brincando que nem imaginou que o Dário tivesse algo. Disse que ficou com vergonha de ter reclamado de algo do bebê dele.
Esse homem não sabia o que era e nunca tinha visto a fenda. Ele perguntou se o Dário consegue se alimentar e tudo o mais. Depois a mulher voltou e eles ficaram repetindo o que o homem já havia me dito.
Sempre que eu faço algo errado eu brinco com o Dário dizendo que ele merecia uma mãe melhor. Morro de vergonha de dizer que uma vez eu esqueci de prender o cinto no bebê conforto dentro do carro. Por sorte o banco da frente estava prensando o bebê conforto no banco traseiro e eu só percebi isso quando cheguei em casa e fui tirá-lo de lá.
Ter um filho é um compromisso para a vida toda e a gente joga na loteria mesmo. Não da para ter certeza de nada de como ele será.
O Dário precisa de cuidados extras e eu fico feliz por poder fazer tudo por ele. Sempre penso como seria se ele tivesse nascido num país pobre, por exemplo. Naqueles lugares que não tem nada de estrutura para ninguém.
Em 2004 eu fiquei mais de uma semana tendo o mesmo sonho todos os dias. Era um sonho que não se encaixava com nada na época. Não conseguia colocar sentido nele. Tinham trigêmeos chorando muito. Eles deveriam ser idênticos, os traços eram idênticos, o formato da não, dos pés, tudo, mas um era mais gordo ou mais comprido que o outro. Eles estava chorando demais e eu queria poder fazer algo mas eu estava fraca demais e não conseguia me mexer para ir até eles. Eu ficava agoniada olhando sem poder cuidar deles. Esse sonho se repetiu por vários dias e todo dia eu pensava nele sem entender.
Um dia eu sonhei com uma mulher que nunca vi na vida, ela me perguntou se eu ainda queria saber o significado dos sonhos, então ela me explicou que um dia eu iria passar por uma dificuldade muito grande e nova e eu não iria enfrentar sozinha, não iria conseguir sozinha, teria alguém.
É claro que tudo isso é muito novo e difícil e o Felipe sofre junto comigo com todas as incertezas e terrorismo dos médicos, mas não sei se acredito que esses sonhos eram um sinal.
O que eu sei é que eu sempre fico meio atenta a reação das pessoas quando o vêem e eu nunca imaginei que um homem fosse chorar. Quanta sensibilidade.
O Dário é o bebê que nos modifica para sermos pessoas melhores e mais unidas. Ele nos enche de aprendizados e alegria.

3 comentários:

  1. Bruna vc eh mto especial! E tb acho q ele eh um bebe especial para uma mãe especial! Começando pelo fato de ter dado a chance dele provar a vontade dele de viver!! Beijos!

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    1. Vontade de viver e encher nossas vidas de alegria! Ele é uma criança muito doce, um anjinho lindo

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  2. Bruna vc eh mto especial! E tb acho q ele eh um bebe especial para uma mãe especial! Começando pelo fato de ter dado a chance dele provar a vontade dele de viver!! Beijos!

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