4 meses!

O Felipe já tinha ido dormir no sofá e eu ainda estava sentada na poltrona com o Dário no colo.

Desde que ele começou a receber o leite pela sonda nunca mais conseguimos dormir juntos no sofá. Fico sentada na poltrona com o Dário no colo. Ele não pode ficar deitado na horizontal enquanto recebe o leite e a sonda é configurada para correr muito devagar.

Eu sempre durmo com ele no colo. As técnicas e enfermeiras entram no quarto e perguntam se não quero colocar o Dário no berço. Elas ficam com medo de eu deixá-lo cair. Eu não consigo imaginar ele caindo mas é melhor não arriscar muito. 

Ele dorme tão bem no meu colo e eu quero aproveitar cada segundo antes da próxima cirurgia, ainda mais agora que sei que ela está tão próxima. 

Por mais que eu pense positivo e esteja otimista sempre bate um medo dele não voltar dela. Isso porque sempre há o risco de algo dar errado. 

Mas ontem tinha um menino de uns 5 anos correndo de um lado para o outro no corredor. 

"Eu sou um leão!"

Ele parecia mesmo um leão de tão forte e saudável. Mas ele tinha feito a terceira cirurgia do coração. Ele nasceu com a cardiopatia mais severa, a hipoplasia do ventrículo esquerdo. O médico dele é o mesmo do Dário. Isso dá esperança.
Quando o bebê nasce com essa cardiopatia eles fazem 3 cirurgias chamadas nowrood, Glenn e fontan. Tem aqui nos quartos 3 bebês com menos de um mês que já fizeram o nowrood. Eles ficam aqui até fazer o Glenn.
Uma das mães tem mais dois filhos pequenos e fica dividida entre eles e o bebê.
Tem uma mãe que o bebê teve que fazer o blalock duas vezes.
Tem muitos cardiopatas aqui.
"Nós vamos corrigir a posição das artérias e fechar os buraquinhos do coração do Dário."
Mas, para isso eles precisam fazer um exame para ver se o ventrículo direito dele está num tamanho bom. Se não tiver vão repetir o blalock. Mas eles acham que vai ser a correção definitiva agora.
Eu só não entendi por que precisam fazer uma tomografia. Mandaram uns neurologistas porque estão achando que a primeira cirurgia pode ter provocado alguma alteração neurológica que fez com que ele recusasse a mamadeira e, agora com a sonda, faz com que ele vomite e sinta dores. Eu ainda acho que é refluxo mas eles insistem que precisam descartar isso.
E se fosse o contrário? O tratamento fosse pelo SUS e não tivesse vindo neurologista nenhum e não tivesse nada de tomográfica. Ficassem tratando refluxo enquanto que, na verdade, houve mesmo uma alteração neurológica?
Eu estou reclamando de barriga cheia porque eu sempre vou reclamar. Eles estão se excedendo em precaução. Tenho que achar isso bom porque, embora duvidem que ele esteja com refluxo, eles estão dando os remédios para refluxo.
Tem um caso famoso de uma menina com dois corações. Ela é paciente do dr. José Pedro também. Aqui na UTI tem outro bebê assim, o coração dele não estava reagindo após a cirurgia e ele colocou um outro coração de reforço para que o dele se recupere.
É muito difícil achar um coração compatível em tamanho e idade.
Hoje é o quarto mesversario do Dário. Ele perdeu a sonda e tiveram que passar outra. Aproveitei que ele estava sem ela para tirar muitas fotos.
Não sei qual a melhor palavra para descrever como me senti ontem após a ligação da cardiologista. Só sei que sai um pouco do hospital e acabei cortando o cabelo como nos velhos tempos.