quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Tirando os drenos

Acordei às 3 da manhã e tinha leite para todo lado. Eu sempre tive a impressão que dormir de soutien poderia inibir a produção porque prende a mama, então parei de dormir assim.
Parece que quando eu disse que iria ligar o turbo na produção deu certo mesmo.
Estava mantendo em torno de 600 a 700ml de ordenha por dia enquanto estávamos no quarto, agora subiu bem mais. Deve ser porque estou dormindo melhor. Não estou passando a noite na UTI não.
Uma coisa que machuca muito uma mãe de bebê na UTI e ouvir que uma outra mãe está fazendo algo melhor que ela.
"Eu fico o dia e a noite toda do lado dele na UTI"
"Eu consigo tirar todo o leite que ele mama"
"Eu não vou beber água nem ao banheiro, fico lá com ele"
Tem hora que ele fica melhor sem eu lá porque quanto mais ele ficar em repouso melhor será. Eu ainda não posso pegá-lo no colo, demora um tempo mesmo. Ele ainda está com os drenos e as costelas ainda estão sensíveis. Toda a região do peito está sensível, por isso ele ainda está recebendo morfina.
Eu estava com ele hoje de manhã e pediram para eu sair para eles tiraram os drenos.
"Vai dar uma volta. Volta aqui mais tarde"
Voltei para o hotel.
Dependendo da roupa que eu coloco nem parece que estou com quase 90kg. Sinto falta de correr, pedalar, nadar e fazer yoga.
Se eu sinto falta imagina o Felipe... Ele nadava 5km todos os dias de manhã. Depois do trabalho tinha dia que ele ainda corria uns 10km para distrair um pouco.
Quem tinha um ritmo acelerado assim e interrompe de uma vez engorda mesmo. Mas ele ainda consegue se controlar melhor que eu. É que ele não amamenta. Ele está com 75kg.
Queria estar correndo com o Dário. No final das contas nem deu tempo de comprar o carrinho de corrida. Quando sairmos daqui vou comprar e correr atrás do prejuízo. Preciso emagrecer para ajudar a controlar a pressão.
Tem semanas que estou com um dente latejando também. Consegui uma consulta para essa semana aqui perto do hospital. Tenho que resolver tudo antes de voltarmos para o quarto.
Tinha que ter uma pessoa 24 horas comigo no quarto, mas não tem ninguém que possa. Estava ficando maluca presa lá e as coisas não caminhavam nunca.
Ainda não perguntei de previsão de quando voltaremos para o quarto e nem quero perguntar. Da primeira vez foi uma frustração tremenda sempre que me falavam para levar as malas porque ele estava de alta e, quando eu chegava lá com tudo, eles me falavam que a alta tinha sido suspensa.
Tem uma ONG chamada Pequenos Corações. Eles possuem uma casa para alojar as mães de bebês internados. Não cobram nada mas homens não podem entrar na casa. Eu quero muito ficar com o Felipe.
Ontem eu estava conversando com outra mãe e ela perguntou da cirurgia do Dário. Disse para ela que foi feita a definitiva com todas as correções necessárias. Daí ela disse que a primeira do filho dela foi assim também, mas depois os buracos do coração dele abriram todos novamente. Meu coração gelou.
Esse é o segundo motivo para eu não ficar na casa da ONG. Meu coração não aguenta essas histórias. Estou num estado que nunca me imaginei antes. Estou fazendo tudo o que posso para manter a cabeça no lugar e eu não me garanto muito depois de tudo o que já passamos.
Falam que eu sou forte, que eu sou isso ou aquilo outro mas não é bem assim. Quando eu estava grávida tive que correr para a terapia rapidinho quando soube das alterações do Dário. A primeira coisa que ficou claro para mim é que eu teria que me blindar de comentários negativos.
Depois disso eu me tornei uma monstra que dá patada em todos. Não que antes eu não fosse.
Sempre que alguém começava a falar algo que começava a me deixar tensa eu já cortava na hora. Está assim até hoje. Quem gosta de mum gosta muito para suportar isso.
A questão é que tem horas que as pessoas pensam que estão ajudando mas não tem como prever a nossa reação.
"Ai, meu Deus, estou desesperado!! Como está o Dário??"
Que bom que as pessoas se importam assim com ele a ponto de ficarem desesperadas. Mas eu não aguento jogarem mais tensão em cima de mim. Sinto muito mas não estou em condições de relevar. Preciso estar 100% para continuar cuidando dele porque só eu fico aqui 24 horas. Ele precisa de mim inteira e eu estou aqui com a pressão alta, com dente lajetando e ainda tem aquelas malditas hemorróidas que nunca consegui tratar.
Estou longe, muito longe de ser um doce de pessoa.
Por isso que tenho mais é que admirar quem continua gostando de mim.
"Dário, só você tem o melhor de mim sempre. Mesmo quando eu te mordo são mordidinhas de amor."

Alguns vídeos do tempo que ficamos no quarto. Não subi antes porque no hospital não tem wi-fi e meu 3G é ruim






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